Ao lado de Kosovo e do Marrocos, o Brasil tem escolas com a pior proporção de computadores por aluno entre os 79 países e territórios avaliados pelo último Pisa. Enquanto a média nos países ricos é de cerca de um computador por estudante, no Brasil são dez alunos por equipamento.
O relatório da OCDE (Organização Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado nesta terça-feira (28), indica correlação entre a quantidade de equipamentos e o desempenho dos estudantes no Pisa. A prova é o mais reconhecido instrumento internacional de avaliação da educação básica, com testes aplicados a estudantes de 15 anos. O relatório “Políticas Eficazes, Escolas de Sucesso” compara informações da oferta escolar entre os participantes da última edição do Pisa, de 2018.
A capacidade de infraestrutura digital ganhou relevo em meio aos planos de retorno às aulas durante e no pós-pandemia de coronavírus. No Brasil, alunos em escolas com mais computadores por aluno tiveram pontuação mais alta em leitura, diz o relatório da OCDE. O comportamento também foi identificado em países como Belarus e Estônia.
Depois do Brasil, o país latino-americano com pior relação de computador por estudante é o México, que registra um dispositivo para quatro alunos. O Chile, cujos resultados educacionais são recorrentemente comparados aos do Brasil, tem uma proporção de quase um computador por aluno (0,7).
Com relação à internet, o relatório mostra que 26% dos estudantes brasileiros estão em escolas cujo diretores avaliam que a conectividade de banda larga é suficiente. Trata-se da quinta pior taxa, e só supera Argentina, Colômbia, Panamá e Marrocos. A média da OCDE nesse indicador é de 67,5%.
O jornal Folha de S.Paulo revelou no mês passado que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) patina no apoio à implementação de internet nas escolas públicas do país. Apenas 16% do orçamento de 2019 para esse fim, equivalente a R$ 37 milhões, haviam sido de fato pagos no passado –nenhum centavo dos R$ 135 milhões previstos no orçamento do MEC (Ministério da Educação) deste ano fora empenhado até o início de agosto.
Em entrevista na semana passada, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, eximiu o MEC de colaborar com as redes de ensino no enfrentamento dos reflexos da pandemia. O que inclui a oferta de conexão de internet a alunos de baixa renda. “Disponibilizar dispositivos digitais na escola não será útil a menos que esses dispositivos sejam adequados para o ensino e aprendizagem”, diz o relatório. Marca do sistema educacional brasileiro, a desigualdade aparece também aqui. Enquanto 68% dos alunos em escolas com nível socioeconômico mais favorável frequentaram uma escola cujo diretor relatou que a escola tinha dispositivos digitais suficientemente potentes, a taxa era de apenas 10% nas escolas com alunos mais desfavorecidas.
Também há diferenças em outros países, como a Espanha. Mas o abismo é menor: 70% contra 30%. Na edição 2018 do Pisa, o Brasil ocupa no ranking da avaliação a 57ª posição em leitura, 58ª em matemática e 53ª em ciências.
O estudo também compara condições como, por exemplo, o tipo de contrato de trabalho do professor na escola, o que tem impacto nos resultados dos alunos. Na média da OCDE, 87% dos professores de escolas com alunos de 15 anos, público-alvo do Pisa, trabalhavam em dedicação exclusiva.
Apenas sete países registram menos que 75% dos professores com dedicação exclusiva. Ainda assim, o Brasil tem uma posição mais complicada: está entre os únicos três com menos da metade dos professores com esse tipo de dedicação, só superando Argentina e Uruguai nesse quesito.