Sem as aulas presenciais e passando o dia inteiro dentro de casa – por conta da pandemia da Covid-19 -, as crianças têm computadores, celulares, tablets e videogames como companheiros fiéis. No entanto, esse uso precisa ser controlado pelos responsáveis para que os pequenos não sofram com déficit de atenção, irritabilidade, ansiedade e nem desenvolvam agravos físicos. Para lembrar o Dia das Crianças, celebrado hoje, a Folha de Pernambuco apresenta dicas de como manter o equilíbrio sobre a utilização dos aparelhos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que o tempo de uso diário seja de acordo com a faixa etária. Conforme a SBP, até os dois anos, não deve haver contato com telas; dos dois aos seis, até uma hora por dia; dos seis aos 11, duas horas; e a partir dos 12, até três horas. Para o psiquiatra Julio Gouveia, limitar o uso ao tempo recomendado é uma tarefa complicada. “Esse tempo de uso já era “irreal” antes do isolamento, que só tornou a missão mais difícil. Além do uso para entretenimento, esses aparelhos estão sendo usados para as aulas e atividades escolares”, argumenta Gouveia.
O psiquiatra explica que não existem estudos que relacionem o excesso do uso a agravos no neurodesenvolvimento, mas que a utilização desenfreada tem, sim, consequências. “O jovem que passa muito tempo com um eletrônico pode sofrer com alteração da rotina e do ciclo de dia e noite, maior irritabilidade, transtornos de ansiedade, além dos problemas físicos, como dores na coluna e problemas na vista”, salienta Julio.
Helia Bianca, 27, tem três crianças com idades entre quatro e nove anos e todos gostam muito do celular. Sarah, 9, e Sabrina, 6, adoram reproduzir vídeos e danças do TikTok. Já Heitor, 4, passa grande parte do tempo vendo desenhos no Youtube. “Às vezes eu mesma dou meu celular para eles na intenção de deixá-los quietos ou distraídos enquanto adianto alguma tarefa”, conta Bianca. Apesar das dificuldades, Helia ainda consegue ter o controle sobre o horário de uso.
Cenário um pouco diferente do que ocorre na casa da comerciante Ana Claudia, 28, mãe de Luan Vitor, 14, e Luana Vitória, 12. “Os meninos passam o dia inteiro no celular. Como não precisam mais acordar cedo por causa da escola, já os flagrei de madrugada sem dormir porque estavam mexendo no aparelho. Tive que ser mais rígida e desligar a internet da casa”, relatou Ana. Ela conta ainda que, quando não estão com o celular em mãos, seus filhos ficam irritados e até mesmo ansiosos. Na tentativa de controlar isso, ela estabeleceu algumas normas de uso. “Impus pequenas obrigações que servem como requisitos para usar o celular. Luan só pode jogar se lavar a louça. Já Luana, se quiser o celular, precisa varrer a casa. E assim vou negociando com eles”, brincou.
Para Julio Gouveia, a medida adotada por Ana é interessante e recomendada por especialistas. “Estabelecer atividades como ‘moeda de troca’ é válido, mas, além disso, é preciso explicar os prejuízos do excesso, para que compreendam por que não podem passar um dia inteiro no celular”, pontua. Para ter ainda mais controle, Julio recomenda que computadores e videogames não fiquem no quarto dos jovens. “Até mesmo por questão de segurança, o ideal é que eles fiquem em algum lugar central da casa. Assim é mais fácil de intervir durante os excessos”, considera. Uma outra dica do especialista é usar esses eletrônicos a favor da educação, sempre mostrando sites educativos e de leitura, além de jogos construtivos.
O oftalmologista Ermano Melo, da Oftalmax e Opty, destaca que o uso em excesso das telas eletrônicas é um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da miopia. “Muito tempo diante das telas demanda um esforço demasiado da visão e causa fadiga ocular, dores de cabeça e nos olhos. Apesar de comum, a miopia dificulta que a pessoa enxergue os objetos próximos com nitidez, enquanto os distantes são visualizados com pouco foco, como se estivessem embaçados”.
Para Ermano, o ideal é que se tenha um descanso a cada 2h. “Levantar e olhar a rua através da janela, brincar ou praticar outras atividades longe das telas é essencial para a saúde ocular”, conclui o oftalmologista.