Em conversas reservadas, aliados avaliam que o ex-presidente Lula não pensa em outra coisa: pretende concorrer ao Planalto em 2022. O discurso feito ontem pelo líder-mor do PT reforça essa bolsa de apostas. Nas esquerdas, já é dado como certo o seguinte: Lula não só quer disputar, como já quer abrir a discussão com siglas aliadas. Em outras palavras, aliados dizem, nas coxias, que ele “não quer ser candidato só do PT”. O movimento de Lula levanta um debate sobre qual construção seria mais viável em Pernambuco num cenário com o petista encabeçando uma chapa presidencial. Ao conjunto das esquerdas, não passa despercebido que a deputada federal Marília Arraes poderia ser o nome natural, após protagonizar um 2º turno com João Campos em 2020, a encabeçar um palanque do PT no Estado, mas, ao mesmo tempo, lideranças desse campo advertem que o passo dado por ela na eleição da Mesa Diretora da Câmara Federal pode, agora, servir de trunfo a legendas que ainda jogam para ter apoio do PT, em Pernambuco, na corrida majoritária de 2022. “Marília derrapou na primeira curva”, observa uma fonte, sinalizando descompasso entre um projeto presidencial de Lula e uma eventual candidatura de Marília ao Palácio das Princesas.
Essa visão é reproduzida por outra liderança desse campo, a qual realça a decisão da Executiva Nacional do PT de abrir processo contra Marília na Comissão de Ética e cita reações de quadros históricos do partido, a exemplo de Rochinha, membro do Diretório Nacional. Coordenador da CNB, Rochinha chegou a repudiar publicamente a conduta da deputada. Marília foi eleita segunda secretária numa costura que reuniu apoios também de eleitores de Arthur Lira e, vitoriosa, derrotou o candidato oficial da legenda. Parlamentares que acompanham apostam que as rusgas que restaram impediriam, hoje, Marília de ser a candidata a governadora da sigla. “Marília saltou antes do cavalo passar”, argumenta outra fonte em referência ao STF ter anulado condenações contra Lula, recompondo maior na legenda, hoje, a Marília viria da presidente nacional, Gleisi Hoffmann, que não teria digerido o resultado da Mesa. O detalhe é que, nesse cenário, há quem já não descarte um entendimento entre PT e PSB em Pernambuco como resultado de uma construção via direção nacional das legendas, agora, com Lula de volta à cena.