ACM Neto, presidente do DEM, disse à coluna Painel, da Folha de S.Paulo, que o partido não está discutindo internamente o impeachment de Jair Bolsonaro. O tema entrou nas pautas de siglas como PSD, PSDB e Solidariedade após as declarações golpistas do presidente nos atos de 7 de Setembro.
“O partido compreende que existem neste momento outras pautas que são prioritárias para o debate interno do partido e do próprio país”, diz o ex-prefeito de Salvador (2013-2020).
A bancada do DEM na Câmara conta atualmente com 28 deputados, e dois membros do partido, Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e Tereza Cristina (Agricultura), são ministros. ACM Neto afirma que Bolsonaro ultrapassou todos os limites do razoável em nas falas de terça-feira (7) aos seus apoiadores, mas defende que é igualmente importante reconhecer que sua “Declaração à Nação” desta quinta-feira (9) trouxe “sensação de conforto e segurança”, caso o que está nela seja real e sincero.
Sobre o grau de confiabilidade das intenções supostamente apaziguadoras contidas na nota elaborada com a ajuda de Michel Temer (MDB), ele diz que não sabe avaliar, mas que tem esperança de que se concretizem. “Só quem pode falar o que vai acontecer é o próprio presidente. A expectativa de qualquer brasileiro que reflita com bom senso é que a carta seja uma expressão de uma postura firme a partir de agora”, diz. “Evidente que caberá ao presidente, com seus atos e palavras, confirmar ou não o que estava escrito na carta”, completa.
A mobilização das legendas para discutir o impeachment de Bolsonaro foi impulsionada pelas ameaças antidemocráticas feitas pelo presidente diversas vezes no último mês, mas especialmente nas manifestações do 7 de Setembro. ACM Neto afirma não acreditar na possibilidade de ruptura institucional. “Honestamente, acho que nossa democracia passou por vários testes nos últimos anos, de 2014 para cá principalmente, com impeachment de uma presidente [Dilma Rousseff, PT-RS], as turbulências vividas com a Lava Jato, os episódios durante o governo Temer e a própria eleição do Bolsonaro”, inicia. “Já passamos por muitas turbulências e as instituições continuam firmes, de pé, cumprindo seu papel. Não significa que elas não erram, na minha opinião todas têm erros e acertos. Não acredito em uma ruptura institucional. Espero que ao fim de tudo o bom senso e o respeito à Constituição prevaleçam”, completa o dirigente.
Ao ser perguntado se enxerga também erros por parte do Supremo Tribunal Federal na atual crise da democracia nacional, ele responde que “todos os Poderes têm errado”. O que não significa, ressalta, que Bolsonaro tenha direito de agir como nas manifestações de rua da última semana. “Não vou fazer julgamento de qualificação. Mas acho que todos os Poderes têm errado. O que não quer dizer e não justifica colocar em dúvida o respeito às decisões judiciais e a independência do Poder Judiciário no país”, conclui ACM Neto, que deverá ser candidato ao governo da Bahia em 2022.