“Brasil está virando a página”
Para o vice-presidente da Luminate na América Latina, o aumento de apoio da presença de pessoas LGBTQIA na política se deve a atuação contínua dos movimentos sociais. “Quando pessoas e comunidades são atacadas, elas precisam encontrar maneiras de sobreviver e serem ouvidas. O alto apoio a uma maior representação LGBT na política é uma resposta aos ataques e à violência que a população LGBT enfrenta no Brasil”, diz Felipe.
“Vimos um aumento brutal de violências contra pessoas LGBT nos últimos anos, violência essa que passou a ser mais amplamente denunciada por novas vozes ativistas e vozes que inclusive estão na política nacional, colocando também o tema na agenda — nesta legislatura temos duas mulheres trans, uma mulher lésbica e outra mulher bissexual eleitas para a Câmara Federal, por exemplo”, continua o especialista.
Felipe ainda lembra que a Parada LGBTQIA de São Paulo é a maior do mundo — e isso foi sendo construído com o tempo e bastante luta. “Historicamente, o movimento tem organização desde a década de 1980. São quatro décadas de construção de base e conexões regionais e internacionais que fazem do Brasil um país-referência para a luta LGBT “, afirma. Segundo ele, a pesquisa mostrou que a ideia de que essa população esteja dentro da política institucional se consolidou e que o “Brasil está virando uma página”.
“Apesar deste apoio, existe uma percepção mais frágil (embora no Brasil esta percepção seja a maior entre os quatro países) do diferencial que pessoas LGBT adicionam à política institucional, seja por sua atuação pró-direitos desta população, seja por suas contribuições em temas de extrema importância para a agenda nacional. A visão universalista da inclusão política tende a ignorar ou reduzir os desafios e barreiras únicas que enfrenta a população LGBT . Consequentemente, existe menos apoio a medidas afirmativas, como cotas partidárias, e pouca valorização do voto afirmativo. O desafio apontado, no entanto, não é novo: a população brasileira ainda não apoia majoritariamente medidas afirmativas também em outros temas”, emenda Felipe.
No entanto, o especialista chama a atenção para o fato de que o cenário atual não aponta para o pessimismo, mas sim para um otimismo realista. “Quem não vê o problema com nitidez enxerga menos a solução. Devemos entender as barreiras e atuar para superá-las, tal como fizeram tantas pessoas LGBT eleitas e candidatas das últimas eleições, que foram históricas”, conclui.