Andrei Meireles – Blog Os Divergentes
A velha demagogia, quando necessário, sempre ganha roupa nova. Às vezes, até com rótulos moderninhos tipo fake news e pós-verdade. Isso virou moda no marketing eleitoral e nos embates políticos mundo afora. Aqui, no pré-jogo da sucessão presidencial, o vale tudo é escancarado.
Como a régua ética praticamente pôs quase todos na mesma vala, apesar do generalizado clima de confronto, às vezes é difícil distinguir quem está de cada lado. Se é que há lados realmente diferentes nessa história. Por exemplo, com a derrubada de Dilma Rousseff, o PT e o PMDB, parceiros e cúmplices, principais protagonistas nos maiores escândalos da história, pareciam ter brigado para sempre. Ou, pelo menos, até o fim do governo em que um passou a perna no outro.
Esperava-se que, mesmo não tendo dado certo nas eleições municipais, o PT repetisse na sucessão presidencial o tal discurso contra o golpe. Qual o quê! Outro dia, Lula disse ter perdoado os “golpistas”. Em pelo menos seis estados,“golpistas” e “golpeados” do PMDB e do PT voltam a namorar. Entre as paqueras avançadas, Renan Calheiros, que presidiu e apoiou o impeachment, e Eunício Oliveira, quem o sucedeu e banca a pauta de Temer no Senado. É como se a ruptura, cantada em verso e prosa na narrativa petista, fosse apenas uma rusga. Esse resgate amoroso com muitos interesses nem é exclusivo. Lula e o PT namoram também partidos do Centrão que nem precisaram sair do governo na troca que fizeram de Dilma por Temer. É toda essa velha turma, parceira no Mensalão e na Lava Jato, que o PT pretende reunir, sob a batuta de Lula, nas eleições ano que vem.
Alguém mais desavisado (ou crédulo) poderia até achar que seria a tal síndrome de Estocolmo. É apenas esperteza, a malandragem de sempre. Mas há um ingrediente novo nessa disputa eleitoral: a inflação que multiplicou o preço do sempre valorizado foro privilegiado. Antes significava status e facilidades em investigações, inquéritos e processos que no final não iam dar em nada mesmo.
Continua…