Recife retira cloroquina e hidroxicloroquina de protocolo da Covid-19 após OMS alertar para riscos

Diário de Pernambuco

O Recife anunciou, ontem (25), a retirada da cloroquina e hidroxicloroquina do protocolo de tratamento da Covid-19 após um estudo feito com 96 mil pacientes, publicado na sexta-feira (22) na revista The Lancet, apontar que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina sozinhos ou combinados com macrolídeos – grupo de antibióticos dentre os quais se destaca a azitromicina – não tem benefícios comprovados no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus.

O secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, disse que, mesmo antes da publicação do estudo, não havia recomendação para a utilização da droga na atenção primária do município. “A Prefeitura do Recife não só não recomendará o uso da cloroquina e hidroxicloroquina na atenção primária à saúde, que já era a nossa posição, como vai retirar a medicação do protocolo de uso hospitalar. Naturalmente, casos muito específicos e devidamente justificados pela equipe médica serão considerados, mas fora do protocolo, se for o caso. Essa posição será mantida enquanto não houver novas evidências falando o contrário”, afirmou.

Segundo o secretário, a Prefeitura do Recife toma as decisões relacionadas ao assunto ouvindo um núcleo de evidências do município. “Na sexta-feira, foi publicado esse trabalho, que é um divisor de águas. Ele provoca um revés muito duro no uso da cloroquina e hidroxicloroquina no mundo tudo. Esse estudo encontrou que não só não havia impacto benéfico em pacientes com Covid-19, mas encontrou maior risco de morte de pacientes hospitalizados e maior risco de distúrbios do coração”, disse.

Na manhã desta segunda, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enviou à direção do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) um e-mail recomendando a suspensão do uso de cloroquina em pacientes com a Covid-19. O Huoc participa, representando Pernambuco, do estudo mundial Solidarity (Solidariedade), realizado pela OMS em mais de 100 países.

De acordo com o médico Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do Huoc, a OMS pediu a todos os hospitais que fazem parte deste estudo para suspenderem o “braço que utiliza a cloroquina no estudo”. O infectologista afirmou que, além da cloroquina, outros medicamentos são usados nessa pesquisa, mas, atualmente, as outras drogas não chegaram ao Huoc, que trabalhava apenas com a cloroquina.

“Tínhamos dois braços (no estudo), que eram o de (1) não utilizar ou (2) utilizar a cloroquina. A recomendação foi quem está utilizando concluir o curso do tratamento, mas nenhum paciente iria mais entrar no estudo”, esclareceu Demetrius. “A cloroquina estava no protocolo do hospital por conta do estudo e não como de uso generalizado”, completou o médico.

No Brasil, o ensaio clínico Solidarity, da Organização Mundial da Saúde, é coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Lançada pela OMS no dia 20 de março, a iniciativa tem como objetivo investigar a eficácia de quatro tratamentos para a Covid-19 e foi implementada em 18 hospitais de 12 estados, com o apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde.

O estudo é uma conjugação de esforços em todo o mundo, para dar uma resposta rápida sobre que medicamentos são eficazes no tratamento da Covid-19 e quais são ineficazes e não devem ser utilizados. A resposta a essas perguntas exigia que milhares de pacientes participassem dos testes das drogas.

Para alcançar o número necessário mais rapidamente, a OMS uniu o esforço de vários países. A pesquisa foi planejada para poder ser executada em um momento em que todos estão dedicados a cuidar de pacientes graves internados. O estudo inclui somente pacientes hospitalizados.

Apesar de ter quatro linhas de tratamento definidas, uma das premissas do estudo é que ele seja adaptável, ou seja, caso surjam novas evidências, as linhas podem ser adequadas, com descontinuação de drogas que se mostrem ineficazes e incorporação de medicamentos que venham a se mostrar promissores. Nesse tipo de estudo, uma comissão central tem acesso a todos os dados e faz análises durante todo o processo, evitando que os pacientes sejam expostos a drogas ineficazes ou com toxicidade elevada. 

Números

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) confirmou, nesta segunda-feira, 607 novos casos da Covid-19 em Pernambuco. Entre os confirmados hoje, 220 se enquadram como Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e 387 como leves. Agora, Pernambuco totaliza 28.366 casos já confirmados, sendo 12.611 graves e 15.755 leves.

Dos casos graves, 1.616 evoluíram bem, receberam alta hospitalar e estão em isolamento domiciliar. Outros 4.878 estão internados, sendo 234 em UTI e 4.644 em leitos de enfermaria, tanto na rede pública quanto privada. Até agora, os casos graves confirmados da doença estão distribuídos por 157 municípios pernambucanos, além do arquipélago de Fernando de Noronha e de ocorrências de pacientes em outros estados e países.

Além disso, o boletim de hoje registra mais 1.618 pacientes recuperados do novo coronavírus em Pernambuco, totalizando 8.312 pessoas curadas da Covid- 19 no estado. Desse total, 3.869 são de casos graves e 4.443 casos leves.

Também foram confirmados laboratorialmente 48 óbitos, sendo 27 pacientes do sexo masculino e 21 do sexo feminino, de pessoas residentes no Recife (14), Paulista (4), Vitória de Santo Antão (4), Cabo de Santo Agostinho (3), Jaboatão dos Guararapes (3), Olinda (3), Abreu e Lima (2), Ipojuca (2), Palmares (2), Tamandaré (1), Nazaré da Mata (1), Agrestina (1), Joaquim Nabuco (1), Goiana (1), Brejo da Madre de Deus (1), Água Preta (1), Barra de Guabiraba (1), Bom Jardim (1), Itambé (1), além de um caso de outro estado. Agora, Pernambuco totaliza 2.248 mortes pela Covid-19.

As mortes aconteceram entre os dias 28 de abril e 24 de maio, e os pacientes tinham idades entre 21 e 94 anos. As faixas etárias das pessoas que morreram eram: 20 a 29 (2), 30 a 39 (2), 40 a 49 (1), 50 a 59 (2), 60 a 69 (13), 70 a 79 (13), 80 ou mais (15).

Dos 48 pacientes que vieram a óbito, 30 apresentavam comorbidades confirmadas, como hipertensão (21), diabetes (13), doença cardiovascular (4), doença renal (4), doença de Alzheimer (3), doença pulmonar (3), tabagismo (2) e histórico de AVC (1), o mesmo paciente pode ter mais de uma comorbidade. Três não tinham comorbidades e os demais estão em investigação pelos municípios.

Com relação à testagem dos profissionais de saúde com sintomas de gripe, em Pernambuco, até agora, 6.838 casos foram confirmados e 6.004 descartados. As testagens abrangem os profissionais de todas as unidades de saúde, sejam da rede pública (estadual e municipal) ou privada.