Páscoa: veja como a celebração é tratada em diferentes religiões

Por William Tavares/Folha de PernambucoA Páscoa é uma comemoração religiosa, de origem judaica e surgimento anterior ao Cristianismo, que retrata a data da ressurreição de Jesus Cristo, três dias após a crucificação. Uma celebração com diferentes interpretações ao redor do mundo, desde festividades específicas até adaptações culturais com um olhar único para o marco histórico.
 

Cristianismo
A Páscoa é comemorada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre no início da primavera (no Hemisfério Norte) ou outono (no Hemisfério Sul), estabelecida pelo cálculo do Concílio de Niceia (325 d.C.). Não há uma data específica, mas ela é celebrada normalmente entre os dias 22 de março e 25 de abril. Em 2025, é neste dia 20 de abril.

“A celebração lembra libertação e ressurreição, crenças que unem judaísmo, cristianismo e islamismo, que são as religiões mais novas e que se tornaram as maiores do mundo, desenvolvidas no Oriente Médio a partir do Êxodo, do movimento de Moisés”, afirmou Gilbraz Aragão, coordenador do Observatório das Religiões da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

No Cristianismo, a Páscoa é precedida pela Semana Santa, que relembra os últimos dias de Jesus, incluindo a Última Ceia, a Crucificação (Sexta-feira Santa) e a ressurreição, no domingo.

Arcebispo Dom Paulo Jackson Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco 
“Os judeus celebravam a libertação da escravidão do Egito. Nós celebramos Jesus Cristo, que passou pela morte. Sendo o Deus da Cruz, é também o Deus da Ressurreição. Por suas chagas fomos curados, libertos do pecado. Ele desceu à mansão dos mortos, mas o sepulcro está vazio, com os lençois de linho revoltos ao chão porque Ele ressuscitou. É esta experiência que os católicos têm na Semana Santa, na Páscoa: uma nova vida, para um mundo novo e melhor”, frisou Dom Paulo Jackson, arcebispo da arquidiocese de Olinda e Recife.
No catolicismo há tradições litúrgicas com missas e procissões, contando desde o período da Quaresma (40 dias antes da Páscoa). Já a Igreja Ortodoxa celebra a festa em uma data diferente – ela não segue o calendário Gregoriano, mas sim o Juliano (com diferença de 13 dias para o outro). A Páscoa ortodoxa deve sempre ocorrer depois da Páscoa judaica.

Para comunidades evangélicas neopentecostais e para os protestantes, a Páscoa é uma “história de redenção”, celebrando a ressurreição. Diferente dos católicos, por exemplo, não há restrição ao consumo de carne, tampouco celebração da Quaresma.

Judaísmo
“A Páscoa tem origem na religião judaica. A tradição rabínica lembra uma antiga festa de primavera, em que os pastores ofertavam a Deus um cordeiro como agradecimento pelo rebanho. Ao se tornarem também agricultores, os descendentes de Abraão consumiam toda farinha e fermento em festa no dia anterior à colheita do trigo, porque acumular alimentos é sempre começo de injustiça. Daí o primeiro pão de trigo novo não era fermentado”, citou Aragão.

“Quando o povo judeu foi libertado da escravidão no Egito, guiado por Moisés, esses rituais se uniram na ceia familiar de Pessach (Páscoa Judaica), cujos pratos principais são o cordeiro e o pão sem fermento, lembrando agora a pressa na fuga e a proteção divina na passagem para a liberdade”, completou.

Islamismo e Espiritismo
Os muçulmanos não comemoram a Páscoa por não acreditarem na ressurreição de Jesus como um “evento divino”. Por mais que seja citado em diversas passagens do Alcorão, Cristo não é considerado filho de Deus no Islamismo, apontando que ele, chamado de Isa, foi elevado aos céus por Alá, para retornar no fim dos tempos.

Para o Islamismo, o período mais sagrado é o Ramadã, no nono mês do calendário lunar, durando 29 ou 30 dias. Os muçulmanos se abstêm de comer, beber, fumar e manter relações sexuais desde antes do nascer do sol até o pôr do sol, celebrando o momento em que na visão deles o profeta Muhammad recebeu a revelação do Alcorão do anjo Gabriel. Ocasionalmente, a Páscoa cristã pode coincidir com o Ramadã.

“Trata-se de uma fé vinculada à luta histórica pela terra (com a sedentarização deflagrada pela agricultura) e à experiência de Deus como uma ‘Força dos Céus’ que promete a ‘terra onde corre leite e mel’ e faz aliança para dar justiça ao povo e a pessoa que cumpre a sua lei de misericórdia. No Dia de sua Ira, então, Deus virá julgar os vivos e os mortos – que terão a sua ‘carne’ pessoal ressuscitada”, explicou o coordenador.

Doutrina religiosa, filosófica e científica que surgiu na França no século XIX, por meio do pedagogo francês Allan Kardec, o espiritismo não comemora a Páscoa. A Bíblia, no espiritismo, por exemplo, é considerada uma obra que registra o fundamental da passagem de Jesus Cristo, mas quem segue a religião não acredita em profecias, vendo a ressurreição de forma espiritual e não física.

Testemunhas de Jeová e Budismo
As Testemunhas de Jeová não celebram a Páscoa, considerando que “Jesus mandou relembrar seu falecimento, não sua ressurreição”. Em compensação, comemoram a “Ceia do Senhor”, chamada também de “Refeição Noturna do Senhor” ou “Memorial da Morte de Cristo”. Acontece uma vez por ano, seguindo o calendário judaico, geralmente no dia correspondente ao 14 de Nisã (data bíblica que comemora a Páscoa judaica e a instituição da Ceia do Senhor por Jesus).

Apenas os “ungidos” (que receberam unção com óleo, simbolizando a presença de Deus e o seu favor) podem consumir pão e vinho. Esses (que na visão são 144 mil ao todo) governarão com Cristo no céu. Os demais (a “grande multidão”, que viveria na Terra após o Armagedom) assistem à cerimônia como observadores, que ocorre em locais sem imagens ou decorações religiosas.

No budismo, não há também celebração da Páscoa. A religião comemora o Vesak, o nascimento, a iluminação e a morte de Sidarta Gautama (Buda). A data varia conforme o calendário lunar, geralmente caindo entre os meses de abril e maio. Os budistas fazem meditações e cerimônias nos templos, além de procissões e rituais de iluminação com lanternas.

Matriz Africana
As religiões de matriz africana não possuem uma celebração específica para a Páscoa. Ainda assim, há certo sincretismo religioso, com uma associação entre Jesus Cristo e Oxalá, orixá cultuado como o mais respeitado de todos do panteão africano. Ele é ligado à criação do mundo, paz e equilíbrio.

Algumas casas de Candomblé podem fazer rituais no período que os cristão chamam de Sexta-feira Santa. A Umbanda vê a celebração como um momento de reflexão e caridade. Há tradições que também associam elementos da Páscoa a Nanã, orixá ligada à sabedoria e ciclo da existência.

“As religiões do povos originários colocam a fé no reencontro com os antepassados pela orientação das forças da natureza ou orixás, enquanto as religiões mais orientais, como budismo e até mesmo o espiritismo, apostam na evolução através da meditação, passando por reencarnações. São matrizes religiosas diferentes daquelas religiões proféticas (judeu-cristianismo e islamismo)”, apontou Aragão.