Paciente de covid-19 mais idosa do Maranhão recebe alta em Imperatriz

Correio Braziliense

Banana frita foi o primeiro desejo de dona Raimunda Ildefôncia ao chegar em sua residência no bairro Santa Rita, onde a família tanto temeu não mais recebê-la. A idosa de 104 anos retornou sexta (05) cheia de vida, depois de exatamente um mês hospitalizada lutando contra o coronavírus. Por causa da dieta rigorosa o pedido foi negado, mas ela realizou outra grande vontade: saboreou mais uma vez açaí natural ao chegar em casa, um dos seus frutos preferidos.

A prole de 8 filhos, noras e genros, netos, bisnetos e um tataraneto que a família até demora para contar todos os herdeiros, agora curte a companhia da anciã que passou 30 dias sem nenhum contato com a família.

“Um sofrimento porque ela estava sempre acompanhada, e, de repente, se deparou em um lugar onde não conhecia ninguém e por tanto tempo. Os médicos sempre explicavam e diziam que ela achava que nós a tínhamos abandonado. Levamos ela para a UPA, mas não sabíamos se ela ia realmente ficar internada, não deu tempo nem de explicar tudo”, relatou a bisneta Natália Ferraz, que mesmo com as orientações para o isolamento das pessoas do grupo de risco, precisava acompanhar a saúde de dona Raimunda.

Foi ela quem percebeu a fragilidade da bisavó, que sempre esbanjou saúde e muita lucidez, mas viu que era hora de pedir socorro. Até surgirem os sintomas da Covid, dona Raimunda apenas controlava a pressão arterial nos últimos anos.

“Eu cheguei para visitá-la e percebi que ela estava debilitada. Liguei para o Samu e o médico disse que eu precisava procurar o hospital mais próximo. Eu levei o raio-x que revelou que o seu pulmão estava bastante comprometido, mas até então ela não havia sido diagnosticada com a Covid-19. No entanto, como estava sentindo moleza, corpo febril e tossindo precisou ficar internada na sala amarela, pois seu quadro era estável, e ficou aguardando uma vaga pra sala vermelha, que é a semi UTI”, relembrou Natália.

Atendimento

No prontuário, Raimunda Idelfôncia Pereira Pimenta foi diagnosticada com insuficiência respiratória severa e considerada muito grave, com mais de 50% de acometimento no pulmão. Depois de 16 dias na Unidade de Pronto Atendimento, onde precisou ser intubada, foi transferida para o Hospital Regional Materno Infantil no dia 23 de maio.

Sob muitos aplausos da equipe de profissionais, ela deixou o hospital para seguir o acompanhamento em casa e, na saída, foi recebida pelos parentes com flores.

Em um vídeo que circula pelas redes sociais, familiares não tinham palavras para explicar quão emocionante foi o reencontro. “Só agradecer todo o cuidado, todo o carinho que ela recebeu aqui, porque a gente não podia ver”, falou emocionada a bisneta Natália Ferraz que aparece nas imagens segurando pertences da idosa.

Idelfôncia é natural de Pinheiro (MA) mas reside em Imperatriz há 45 anos. Foi lavradora e quebradeira de coco por décadas, até ficar viúva. Hoje mora com um dos filhos. Questionada sobre o que tinha a dizer ao receber alta, a mais nova vitoriosa fez um gesto singelo de agradecimento com as mãos e disse “só dar graças a Deus”, se despedindo da equipe médica.

Raimunda Ildefônica, aos 104 anos, renova as esperanças de cura no enfrentamento à Covid-19, mesmo quando os pacientes são considerados do grupo de risco e apresentam alguma comorbidade, hipertensão no caso dela, além de comprometimento do pulmão.

“Ela ficou internada 16 dias lá na UPA, os boletins saíam todo dia às 17h, a gente acabou confiando porque não podíamos ter contato com ela. Graças a Deus ela foi melhorando, foi transferida pro Regional e lá ela foi mais bem atendida ainda”, explica Natália Ferraz.

Covid-19 em Imperatriz

Imperatriz tem hoje segundo o último boletim da Secretaria de Estado da Saúde, 2535 casos de coronavírus, mas 1962 pessoas já estão recuperadas. São 428 casos ativos. Dos 18 leitos de UTI do Hospital Materno Infantil, 8 ainda estão disponíveis.