Opinião: E se Bolsonaro estivesse em alta?

Por Magno Martins
Se as tratativas de abocanhar um partido para chamar de seu com o PL, do mensaleiro, ex-lavajatista e boquirroto Valdemar Costa Neto, deram para trás, imagine o cenário que se apresenta adiante para o presidente Bolsonaro! No universo do Centrão, base fisiológica do seu Governo no Congresso, só restam o PP, de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, e o Republicanos, do deputado Marcos Pereira.
Notícias que correm em Brasília dão conta que o PP não quer Bolsonaro em suas fileiras em hipótese alguma, a começar por Ciro, que deixou vazar ontem que tentará apaziguar o PL, junto a Valdemar, para que o presidente não desista da filiação e esqueça o PP. Já Pereira revelou ao site O Antagonista que nunca o Republicanos convidou o chefe da Nação para ingressar na legenda.
Em ano pré-eleitoral, mesmo em se tratando da autoridade máxima do País, não é fácil encontrar um cobertor partidário. Com raríssimas exceções, todas as legendas, independente do alinhamento em cima, na corrida presidencial, embaixo, na disputa pelos governos estaduais, já são fortemente comprometidas.
No caso do PL, Bolsonaro queria o controle de pelo menos cinco diretórios estaduais, entre eles São Paulo e Pernambuco, mas Valdemar já assumiu compromissos com esses dirigentes e resiste às pressões. Se vier a optar pelo PP, nem em São Paulo nem tampouco em Pernambuco será diferente. No caso de São Paulo, o PP está comprometido até a medula com o PSDB – leia-se governador João Doria.
Em Pernambuco, o PP vai de PSB. Seu presidente, Eduardo da Fonte, donatário da maior bancada na Assembleia Legislativa, tem compromisso velado com o candidato a governador que será escolhido e anunciado por Paulo Câmara (PSB). Bolsonaro, portanto, vai ter de comer o pão que o diabo amassou para se abrigar partidariamente até abril, quando se esgota o prazo para filiações e troca de partidos.
Tudo isso se remete, principalmente, ao momento de dificuldades que o presidente e o seu Governo enfrentam. Se estivesse bem avaliado, com amplas chances de ser reeleito logo no primeiro, Bolsonaro escolheria qualquer partido e ainda seria extremamente paparicado. Seu horizonte adverso e sombrio está atrelado ao seu ibope. E tende a não mudar nem tão cedo.
PL com Doria – Em entrevista a jornalistas em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, Bolsonaro deixou claro que as pendências para a filiação são o acerto do partido de Valdemar Costa Neto com o pré-candidato do PSDB ao Governo de São Paulo e as alianças com governadores de siglas de esquerda no Nordeste. “Conversei com o ministro Tarcísio de Freitas e ele aceita discutir uma possível candidatura dele ao Governo de São Paulo. Se ele vier candidato tem tudo pra levar”, declarou. E acrescentou: “É um tocador de obras, é gestor, conhece muito do Brasil e tem como rapidamente se inteirar do que acontece em São Paulo. Uma vez eleito, se vier candidato, da mesma forma como eu fui, sem dever nada para ninguém, tem como botar um bom secretariado e fazer um bom trabalho.”
Acredite se quiser – Bolsonaro disse que foi melhor adiar a data de sua filiação, antes anunciada para 22 de novembro, para não começar o casamento com pendências. E comentou a “intensa troca de mensagens” que, nas palavras do próprio presidente do PL, definiu o cancelamento da data inicial: “Não sei como divulgam uma matéria de que eu teria trocado ofensas [com Costa Neto], foi uma rápida troca por WhatsApp, nem falei por telefone.” Apesar dos impasses que ele pede para o presidente do PL resolver como condição para sua filiação, Bolsonaro afirmou que ele “tem tudo para casar e ser feliz”, recorrendo mais uma vez à metáfora do matrimônio para descrever suas articulações políticas.
Filhos atrapalham – O impasse para se filiar ao PL tem outras razões. O clã Bolsonaro se desentendeu com o mandachuva Valdemar Costa Neto por causa das composições políticas em São Paulo, Bahia, Pernambuco e Piauí. Na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, a ideia do Planalto é forçar o PL a desfazer o acordo para apoiar a candidatura do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB). O presidente tem um time de conselheiros para tratar da filiação. Ele tem conversado nos últimos dias sobre a escolha do partido com os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas), das Comunicações, Fábio Faria (PSD), e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (sem partido).
Ainda em discussão – O PL não decidiu como vai atender as solicitações de Bolsonaro, mas ainda trabalha em ajustar um acordo. Valdemar deu tempo para Bolsonaro poder administrar internamente a questão. Uma reunião com a participação do comando da legenda e das bancadas na Câmara e no Senado está marcada para acontecer hoje, na sede do PL, em Brasília. Integrantes do partido avaliam que um acordo só vai efetivamente começar a ser desenhado após uma conversa cara a cara entre Bolsonaro e Valdemar. O chefe do Poder Executivo volta ao Brasil na próxima quinta-feira.
Fonte: Blog do Magno