Opinião: A via crucis de Danilo 

Por Magno Martins – “É só bola nas costas”. A expressão, muito usual numa partida de futebol, se aplica quando o parceiro de um time pede para avançar e alcançar um lançamento favorável em sua direção, mas, no final, a bola bate nas costas. Quem só leva boladas nas costas, em política, é o traído, surpreendido por alguém que merecia cegamente a sua confiança.
Paulo Câmara, um desses jogadores, passou oito anos governando, mas só agora resolveu lançar um pacote de privatização de rodovias, medida efetivamente impopular, às vésperas da eleição. Danilo Cabral, candidato dele a sua sucessão, a quem ele próprio trata como amigo, levou dele a primeira bolada nas costas, reproduzindo a fiel tradução da analogia do futebol com a política. 
O anúncio, pela Secretaria de Planejamento, de cobrar pedágio em três das principais rodovias do Estado, as PE-050 (trecho de Vitória de Santo Antão a Limoeiro); a PE-060 (que dá acesso do Cabo de Santo Agostinho a São José da Coroa Grande no Litoral Sul do Estado) e a PE-090 (que liga as cidades de Carpina a Toritama), surpreendeu a todos os aliados como mais uma atitude inoportuna contra um aliado que está enfrentando agruras para decolar. 
Danilo foi anunciado candidato a governador com faustos entusiasmos por Paulo Câmara, pelo prefeito do Recife, o infante-viajador João Campos, e pelo presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, além de líderes da Frente Popular, em fevereiro passado. De lá para cá, só tem tomado bolas nas costas. 
Quer o exemplo de outra? Após o lançamento da candidatura, o infante-viajante tirou férias para namorar com a sua Tábata Amaral na Europa, abandonando o aliado, a quem fez juras de fidelidade canina. Sileno Guedes também jogou a bola nas costas de Danilo ao engavetar a programação da Agenda 40 (eventos do Partido que mobilizam a militância pelas regiões do Estado).
Não bastassem esses indisfarçáveis gestos contra a própria campanha, nenhum dos três principais líderes do PSB, seja Câmara, João ou Sileno, tem feito o menor esforço para segurar a presença de aliados no palanque da Frente Popular. Os exemplos são cabais: PP, Pros, PSD e Avante já caíram fora, enquanto o PDT manda sinais de que também anda botando fumaça pelos olhos. 
Vários prefeitos já se movimentam nos bastidores em direção à candidatura de Marília Arraes, do Solidariedade, temendo prejuízos eleitorais em seus redutos políticos, na medida em que essas crises se avolumam e o candidato oficial não reage nas pesquisas de opinião pública. Diagnosticado com Covid na quinta-feira passada, Danilo suspendeu todas as atividades presenciais de campanha. 
Os sintomas, em estágio leves, segundo ele próprio relatou em vídeo nas suas redes sociais, estão sob controle. Mas há relatos de amigos íntimos de que ele se encontra muito abatido. Não por conta da doença, mas por não estar encontrando a solidariedade e o empenho que lhe prometeram os caciques do PSB, entre os quais, a matriarca e hoje dona real do Partido, Renata de Andrade Lima, viúva do ex-governador Eduardo Campos. 
Até quando Danilo vai aguentar tamanha sangria?