Governadores do Nordeste: pau em Temer, aceno a Ciro…

Sergio Roxo – O Globo

Reunidos no Recife, os governadores de seis estados do Nordeste (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia) e de Minas divulgaram nesta sexta-feira uma carta com duras críticas ao governo do presidente Michel Temer (MDB) em alinhamento com o discurso adotado por candidatos de oposição na disputa pelo Palácio do Planalto, como Ciro Gomes (PDT).

A pauta oficial do encontro era a privatização da Eletrobras e as questões federativas que atingem a região, mas as discussões políticas sobre o posicionamento de legendadas como PT e PSB, tanto na disputa presidencial como nas corridas estaduais, fizeram parte das conversas entre os governadores. Pelo menos três dos presentes já defenderam publicamente a necessidade de uma frente de esquerda na eleição para a Presidência da República.

O anfitrião Paulo Câmara (PSB) é favorável a que Ciro encabece a chapa. Nesta semana, o governo petista do Ceará, Camilo Santana, disse, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, não acreditar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 de abril em Curitiba, poderá ser candidato em outubro. Segundo ele, com esse cenário, o melhor caminho para o PT seria apoiar Ciro e indicar o vice.

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Após a divulgação da declaração de Camilo, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), convocou uma reunião com os cinco governadores da legenda para a próxima semana em Brasília. Manifestações em defesa de um plano alternativo a Lula na disputa presidencial têm sido duramente atacadas por dirigentes petistas nas últimas semanas.

O partido vem reiterando que registrará a candidatura do ex-presidente no dia 15 de agosto, mesmo com a sua condenação em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, o que o enquadra na Lei da Ficha Limpa. No plano dos petistas, enquanto a Justiça Eleitoral julga a impugnação, o que duraria pelo menos um mês, Lula apareceria no horário eleitoral e seria apresentado ao país como candidato, mesmo que continue preso até lá.

Na véspera da reunião desta sexta-feira, Paulo Câmara convidou quatro governadores petistas para jantar. Além das discussões sobre a eleição presidencial, o pernambucano também tratou da disputa local. Ele tenta fazer com que o PT retire a pré-candidatura de Marília Arraes.

Um acordo em Pernambuco pode servir como contrapartida para que o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB) também saia da disputa pelo governo de Minas, facilitando o caminho para o atual governador Fernando Pimentel, um dos presentes ao jantar em Recife, na sua tentativa de se reeleger.

A cúpula do PT tenta vincular uma aliança com o PSB em Pernambuco a um apoio do partido à candidatura de Lula. Mas os socialistas descartam essa hipótese. No momento, trabalham para acertar as alianças estaduais e empurram a decisão sobre a disputa presidencial para o mês que vem.

Além de quatro governadores petistas, o encontro teve também dois representantes do PSB (Câmara e Ricardo Coutinho, da Paraíba) e um governador de um partido da base aliada do governo federal, Robinson Faria, do PSD.

O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), chegou a ir a Recife para uma conversa prévia realizada pelos colegas, mas deixou o estado antes da reunião formal que aprovou a carta. Os representantes do Nordeste disseram que a região é que a mais tem sofrido com a crise.

Na texto divulgado hoje, os governadores chegaram a dizer que uma medida da gestão Temer tem “espírito antirrepublicano”. As mudanças na metodologia do governo para conceder crédito aos estados causou desconforto entre os representantes dos estados. “Esse fato — aliado à declaração do ministro da Secretaria de Governo de que a concessão dos financiamentos ficaria limitada, tão somente aos aliados do governo central — denota o espírito antirrepublicano e afronta o princípio do equilíbrio federativo”, diz a carta de Recife.

Em outro ponto, os governadores atacam o desemprego: “O Nordeste concentra o maior contingente dos 13,7 milhões de desempregados brasileiros, aliando-se a isso, o severo corte em programas sociais — notadamente o Bolsa Família — o que fez aumentar a desigualdade”.

A gestão Temer também é acusada de não ter sensibilidade social ao realizar os ajustes. “Não podemos aceitar que a insensibilidade social leve a grande parcela dos mais pobres pagar a conta do necessário ajuste das contas públicas.”

A proposta de privatização da Eletrobras foi outro ponto duramente atacado pelos governadores nordestinos. “Preocupa-nos, sobremodo, o projeto de privatização da Eletrobras e, em particular, o da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), que, em se concretizando, viria a submeter um ativo do povo da região aos interesses dos investidores”.