Globalismo, ideologia de gênero, politicamente correto… O que significam os termos usados pela equipe de Bolsonaro?…

G1

Integrantes da equipe do governo de Jair Bolsonaro prometeram, nos discursos de posse, combater o globalismo, a ideologia de gênero, o politicamente correto e o marxismo cultural, entre outros. A escolha por usar esses termos indica a política a ser adotada pelos próximos quatro anos.

Mas, afinal, o que significam essas expressões que devem reaparecer ao longo do mandato do presidente?

G1 consultou especialistas, livros, dicionários, textos acadêmicos e recorreu a declarações, postagens e discursos do próprio presidente e de ministros para definir os seguintes termos:

  • Globalismo
  • Ideologia de gênero
  • Marxismo cultural
  • Politicamente correto
  • Socialismo
  • Viés ideológico

Veja, abaixo, o que eles significam:

Globalismo

Globalismo significa um governo mundial formado por órgãos supranacionais, ou seja, acima da administração de cada país.

Para a linha crítica do fenômeno, essa dominação ocorre principalmente por parte de magnatas como húngaro George Soros, que financiam projetos progressistas alinhados com o marxismo cultural (um dos termos listados abaixo).

“Boa parte da direita internacional defende que o globalismo é um esquema. Um esquema organizado, um projeto de dominação global”, afirmou ao G1 o professor David Magalhães, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).

O conceito de globalismo se difere de globalização – este último está relacionado à economia. “A globalização é uma ordem espontânea, voluntária, enquanto o globalismo envolve uma ação coordenada, com organização”, comparou Adriano Gianturco, coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec-MG.

No discurso de posse, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, definiu o globalismo como “o ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao próprio nascimento humano”.

Ideologia de gênero

A corrente de estudos sobre o gênero – iniciada nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos e na Europa – teoriza a diferença entre o sexo biológico e o gênero. Para essa escola acadêmica, ser um homem ou uma mulher não depende apenas da genitália ou dos cromossomos, mas de padrões culturais e comportamentais. Tais padrões, segundo os teóricos da área, são adquiridos na vida em sociedade.

Acadêmicos conservadores, no entanto, acreditam que as conclusões dos estudos sobre o gênero não obtiveram validação das ciências exatas e biológicas.

Para eles, portanto, a corrente de estudos sobre o gênero não poderia sequer ser chamada de “teoria” – afinal, faltaria rigor científico para chamá-la assim. Dessa forma, fala-se em “ideologia de gênero”: um conjunto de ideias que defende que cabe a cada pessoa se definir homem ou mulher.

Em entrevista à GloboNews, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, definiu o que considera ideologia de gênero: “um grupo de pensadores chegou à conclusão de que a criança nasce [com a designação sexual] neutra, cresce neutra, e depois decide”.

Marxismo cultural

Marxismo cultural é a corrente revolucionária que, segundo autores conservadores, busca a transformação na sociedade e o desmantelamento do Ocidente capitalista pela mudança de valores culturais. Mas o que significa “marxismo”?

O “Dicionário de economia do século XXI” (Record), de Paulo Sandroni, define o marxismo como a corrente defensora da tomada dos meios de produção pela classe operária. Assim, os trabalhadores assumiriam o controle do Estado e dariam início a uma sociedade sem classes.

Enquanto o marxismo clássico – consagrado pelo filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) – trata principalmente de economia, correntes das ciências humanas do pós-Segunda Guerra Mundial, como a Escola de Frankfurt, passaram a defender a revolução na sociedade pela cultura.

O autor conservador americano William S. Lind, então, chamou esse movimento de marxismo cultural, termo difundido ao Brasil por escritores como Olavo de Carvalho, nome homenageado pelos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez Rodriguez (Educação).

Politicamente correto

No discurso de posse, o presidente Jair Bolsonaro disse que, naquele dia, “o povo começou a se libertar”, entre outras coisas, “do politicamente correto”.

O professor Adriano Gianturco, do Ibmec-MG, define o conceito de politicamente correto como o efeito formado por “frases, palavras e expressões antes comuns na sociedade que não podem mais ser utilizadas no âmbito político e organizado”.

Segundo a corrente crítica ao politicamente correto, a censura e a reprovação pública a essas expressões tendem a destruir valores da sociedade ocidental, como nação, família e religiosidade.

Bolsonaro, assim como o norte-americano Donald Trump, portanto, teriam sido eleitos em contraposição ao discurso chamado politicamente correto.

Socialismo

Socialismo é o “conjunto de doutrinas e movimentos políticos voltados para o interesse dos trabalhadores, tendo como objetivo uma sociedade onde não exista a propriedade privada dos meios de produção”, segundo o “Dicionário de economia do século XXI”.

No socialismo, o Estado – e não o mercado – define os rumos da economia a partir de planos traçados pelo próprio governo. “O estado controla os meios de produção e age em um processo intermediário para levar a uma sociedade sem classes”, explica o professor David Magalhães, da Faap.

O presidente Jair Bolsonaro disse, no discurso de posse, que o “povo brasileiro começou a se libertar do socialismo”.

Ele mencionou também o fim do “gigantismo estatal”, termo relacionado à ideia de socialismo como um controle grande do Estado na área econômica.

Viés ideológico

Segundo o “Dicionário Priberam da Língua Portuguesa”, viés significa “distorção ou tortuosidade na maneira de observar, de julgar ou de agir”. E ideologia quer dizer “conjunto de ideias, convicções e princípios filosóficos, sociais, políticos que caracterizam o pensamento de um indivíduo, grupo, movimento, época, sociedade”.

Bolsonaro afirmou, no discurso do posse, que criaria um ciclo virtuoso na economia para estimular o crescimento “sem o viés ideológico”. Ele também disse, no parlatório, que retiraria o “viés ideológico de nossas relações internacionais”.

Considerando ideologia como um conjunto de ideias de um grupo, o novo governo sinaliza que as medidas serão tomadas sem levar em conta alinhamentos políticos.

Na área internacional, por exemplo, combater o viés ideológico significaria priorizar acordos com outros países favoráveis ao Brasil, em lugar de se guiar por afinidade com outros governos.