França reelege centrista Macron diante de uma extrema-direita em ascensão

Por Toni Cerdá, da AFPOs franceses confiaram, ontem (24), um novo mandato de cinco anos ao centrista Emmanuel Macron contra Marine Le Pen, que apesar de perder conseguiu o melhor resultado da extrema-direita em uma eleição presidencial na França.
Segundo estimativas iniciais, o candidato de La República en Marcha (LREM), de 44 anos, obteve entre 57,6% e 58,2% dos votos, uma diferença menor do que em 2017, quando derrotou sua adversária do Reagrupamento Nacional (RN) com 66,1% dos votos.
França optou por continuar com um líder pró-europeu, que também se tornou o primeiro a conseguir a reeleição desde 2002, quando o conservador Jacques Chirac venceu o pai de sua rival deste domingo, o ultradireitista Jean-Marie Le Pen.
A vitória de Macron distancia o projeto de ruptura da candidata do RN, de 53 anos, que defendia a exclusão de estrangeiros dos benefícios sociais, inscrevendo a “prioridade nacional” na Constituição, e o abandono do comando integrado da Otan.
Porém, apesar das advertências sobre o “perigo” extremista, a extrema-direita tem feito avanços constantes a cada eleição desde 2002. Com 41,8% a 42,4% dos votos, segundo estimativas, Le Pen alcançou seu melhor resultado.
“O resultado por si só representa uma brilhante vitória”, disse a herdeira da Frente Nacional (FN) a seguidores desapontados em seu quartel-general. “Vou seguir meu compromisso com a França e os franceses (…) Vou lutar esta batalha”, acrescentou. 
Comemorações explodiram entre a população presente no Campo de Marte, ao pé da Torre Eiffel, onde Macron deve se dirigir a seus apoiadores, após a divulgação das primeiras estimativas.
Mas “quando vemos uma extrema-direita acima de 40%, temos que continuar trabalhando, unir o país, ter um projeto político e uma maioria parlamentar”, disse o ministro de Assuntos Europeus, Clément Beaune.
“Terceiro turno” 
Com o nome do inquilino do Palácio do Eliseu claro, a segunda economia da União Europeia (UE) entra agora na campanha para as eleições legislativas de 12 e 19 de junho, que desta vez tem ares de um “terceiro turno”.
A reeleição de Macron ocorreu em um cenário de descontentamento entre os jovens e entre os eleitores desiludidos do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que recebeu quase 22% dos votos no primeiro turno.
“Entre a peste e a cólera, devemos tomar a decisão certa”, disse Pierre Charollais, um aposentado de 67 anos em Rennes, no oeste do país, defendendo um “voto responsável” em um contexto “particular” devido à guerra na Ucrânia.
A abstenção, entre 27,8% e 29,8% segundo as estimativas, atingiu assim o seu nível mais elevado em um segundo turno desde 1969 (31,3%).
Macron é “o presidente mais mal eleito” desde o início da Quinta República em 1958, observou Mélenchon, que reiterou seu apelo aos eleitores para torná-lo um “primeiro-ministro” após as eleições legislativas.
De acordo com uma pesquisa BVA na sexta-feira, 66% querem que Macron perca sua maioria parlamentar. A última “coabitação” remonta ao período de 1997 a 2002, quando Chirac nomeou o socialista Lionel Jospin como primeiro-ministro.
“Renascimento”
O primeiro mandato de Emmanuel Macron foi marcado por crises – protestos sociais, uma pandemia com milhões de pessoas confinadas e o retorno da guerra na Europa com a invasão russa da Ucrânia – e a França não é o mesmo país de 2017.
Suas promessas de transformar a França incluem o “renascimento” da energia nuclear, alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e sua impopular proposta de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos.
Embora ele já tenha dito que está disposto a ir só até os 64 anos, essa medida, contra a qual milhares de pessoas já se manifestaram no início de 2020, anuncia novos protestos massivos, como os que abalaram seu primeiro mandato, especialmente o dos “coletes amarelos”.
A guerra às portas da UE sobrevoou a campanha, mas a principal preocupação dos franceses era seu poder de compra, num contexto de alta dos preços da energia e dos alimentos.
Embora Marine Le Pen fosse percebida pelos eleitores como a que melhor entendia os problemas da população, no fim, optaram pela experiência e competência de Macron para lidar com crises, segundo observadores.