Fim das coligações partidárias desafia eleição para deputado federal em 2022

Folha de Pernambuco

A eleição de 2020 acabou há menos de dois meses, mas as estratégias eleitorais visando 2022 já começam a entrar no radar. As eleições gerais do ano que vem serão as primeiras sem as coligações, entretanto, na Câmara dos Deputados, há a intenção de mudanças do sistema. Nas regras vigentes, levando em conta o cenário de 2018, seriam necessários 170 mil votos para um partido fazer o primeiro deputado federal, algo que dificultaria a vida dos partidos e, possivelmente, geraria a necessidade de uma quantidade massiva de candidatos. Diante disso, há dentro do parlamento, visões distintas sobre o modelo atual e se ele deve, ou não, seguir para 2022.

O deputado Daniel Coelho (Cidadania) frisa que o fim das coligações “representa os desejos da população” e afirma que os partidos vão trabalhar suas estratégias, buscar formar suas chapas e atrair filiados. Porém, enxerga a necessidade de uma mudança no cenário atual. “Ainda há um debate em aberto sobre outras formas de eleição, acho que o Congresso deveria se debruçar em uma reforma política. Sou defensor do sistema distrital misto, por ser adotado nas maioria das democracias consolidadas do planeta”, avalia Daniel, destacando que “não podemos desistir de uma reforma eleitoral mais profunda”. O sistema defendido por ele combina voto proporcional e majoritário, com o eleitor tendo dois votos: um no candidato do distrito (os mais votados seriam eleitos) e em na legenda.

Para Silvio Costa Filho (Republicanos) o sistema atual vai ser revertido para 2022. “Sou defensor da verdade eleitoral. O correto é ganhar quem tiver mais votos. Defendo que o voto distrital passe a valer em 2022 e vou trabalhar no Congresso para que isso avance. Com certeza o Congresso, em 2021, vai fazer uma minirreforma eleitoral. Acho que o modelo da verdade eleitoral fortalece mais a democracia”, afirma Silvio. Ele enfatiza que, no cenário atual, os candidatos vão aos partidos nos quais será mais fácil se eleger. “Não vão aos partidos onde ele defende o programa de governo e o conteúdo programático. Na hora que ficarem as mesmas regras, ele vai pro partido que mais se assemelha com o que defende”, acrescenta. 

O deputado Carlos Veras (PT) entende que não há “perspectiva de mudança” e relembra que o PT, em 2018, já saiu sozinho, em Pernambuco, na corrida pelo parlamento. Ele refuta a tese de que a verdade eleitoral, ou seja, o voto distrital, é uma forma mais justa de eleição. “É onde os mais ricos são votados, há concentração de votação. Se for assim, não há necessidade da existência de partidos, isso acaba com os partidos. Claro que há muitos partidos e devemos discutir uma reforma ampla, mas a verdade eleitoral não tem nada de verdade eleitoral, daria vantagem para quem for financiado pelo capital privado”, sublinha o petista, afirmando ainda que essa modalidade “nega a política”.

Por outro lado, uma mudança é dada como certa pelo deputado Fernando Rodolfo (PL). “Eu nem cogito a permanência da regra atual”, enfatiza. O parlamentar diz que o clima no Congresso, hoje, é de mudança das regras eleitorais que vigoraram na eleição municipal de 2020. “AHá uma possibilidade real também é ter o sistema do distritão, onde são eleitos os mais votados, com possibilidade de, a partir de 2026, partir para o distrital misto. Se isso não prosperar, em último caso, deve voltar a permissão para as coligações”, garante.

Permanência

Em um cenário de manutenção do sistema atual, a cientista política e professora da Faculdade de Facho, Priscila Lapa, crê que os partidos que contam com “uma única liderança”, podem precisar repensar suas estratégias. “Não sei se vai prevalecer no âmbito nacional a estratégia de múltiplas candidaturas majoritárias, por exemplo, como vimos nas eleições municipais para dar visibilidade a novos nomes e favorecer a chapa proporcional do partido”, pontua.

Ela aposta que uma das estratégias será a de realizar grandes campanhas de filiação para atrair “novos nomes para fortalecer os partidos eleitoralmente, mas que não sejam exatamente uma ameaça às lideranças tradicionais”. “Creio que podem ocorrer grandes articulações nacionais para que os partidos ganhem visibilidade e estrutura para atrair votos e atingir o quociente eleitoral”, aposta.