Folha de Pernambuco
O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) lançou nota pública, nesta terça-feira (22), em preocupação ao aumento de casos do novo coronavírus em Pernambuco. Para o órgão, as medidas tomadas pelo Governo do Estado são “ineficientes”, ao mesmo tempo em que define como “inadmissíveis” comemorações, festividades e reuniões, bem como a frequência de bares e restaurantes.
O Governo do Estado, por meio de nota, explicou que as medidas de enfrentamento ao novo coronavírus têm sido tomadas com base em dados epidemiológicos, evidências científicas e indicadores da doença.
Na nota, o Cremepe propõe que medidas drásticas sejam tomadas de imediato: o ajustamento do Plano de Convivência Com o Novo Coronavírus para uma fase mais compatível com a expectativa de aumento de casos que se vislumbra e a proteção efetiva e respeito aos médicos e demais profissionais da saúde que trabalham no combate à pandemia.
Por sua vez, o Governo do Estado exemplificou que medidas como a proibição de shows, festas e similares foram tomadas nas últimas semanas, como resultado da intensificação dos processos de fiscalização.
“A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) ressalta que o monitoramento do cenário epidemiológico e dos indicadores da Covid-19 continua sendo feito diariamente e o Governo de Pernambuco não exitará em tomar qualquer medida mais restritiva, caso seja necessário, diante dos indicadores”, diz a nota.
De acordo com o Cremepe, há uma superlotação de serviços públicos de saúde – ambulatórios, emergências e salas de exames. Além disso, o órgão também criticou a superlotação do transporte público, a falta de fiscalização adequada e a falta de materiais de proteção individual e insumos.
“O grau de insatisfação e revolta das exauridas equipes médicas que atendem a pacientes da Covid-19 é imensurável; é de fundamental importância separar os sintomáticos respiratórios dos demais pacientes. Se faz necessário portas de entrada e centros isolados, com todos os pré-requisitos necessários ao atendimento dos pacientes vítimas da pandemia”, diz a nota do Cremepe.
A SES-PE informou que o Governo de Pernambuco trabalhou para preparar a rede de saúde para os possíveis casos suspeitos da Covid-19 mesmo antes da chegada do vírus no Estado.
Com relação à oferta de leitos, o Cremepe informou que não basta abrir leitos para tratamento dos doentes. “É nosso entendimento que, no enfrentamento do novo coronavírus, não bastam apenas ‘abertura de novos leitos de UTI e enfermarias’, se faz necessária uma abordagem baseada em um modelo que vise minimizar de forma efetiva a circulação do vírus até a plena imunização populacional”, diz a nota.
Confira a nota do Cremepe:
O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, no uso de suas atribuições institucionais e preocupado com o desproporcional aumento de casos de Covid-19 no país e em especial em nosso estado, vem tornar pública conclusões tomadas em Plenária Geral Extraordinária deste Conselho, realizada em 21/12/2020, que contou com a presença de cientistas do LIKA e do IRRD, que prestam assessoria ao governo do estado de Pernambuco.
Estamos verdadeiramente diante de um gravíssimo problema de saúde pública de âmbito mundial. Nunca foi tão difícil fazer chegar à população a verdadeira dimensão da pandemia que nos assola. Uma campanha massiva envolvendo as instituições civis organizadas, deve ser viabilizada de imediato. Mais do que nunca os meios de comunicação devem ser alimentados com dados baseados em trabalhos científicos robustos, de fontes confiáveis, combatendo o “negacionismo” e as “fake news” que em nada contribuem para o bem da sociedade.
Conforme dados epidemiológicos disponíveis, do conhecimento do governo do Estado, há claro apontamento para um crescimento expressivo de infectados e mortes, nas próximas semanas. Desta forma, tornamos cientes à toda a população pernambucana, em especial aos nossos médicos que:
1. Consideramos, até o momento, ineficientes as medidas recentemente anunciadas pelo Governo do Estado de Pernambuco.
2. Consideramos inadmissível, com a evidente alteração da tendência das médias móveis de infectados e óbitos, que ainda seja permitido o uso indiscriminado de espaços públicos; a ampla carga de pessoas circulantes; a superlotação de serviços públicos de saúde – ambulatórios, emergências e salas de exames -; a superlotação no transporte público e a falta de fiscalização adequada do uso obrigatório de máscaras e do distanciamento das pessoas.
3. Consideramos ainda, incompreensível a permissão para reuniões, comemorações, festividades, bem como a frequência de bares e restaurantes, com elevado número de pessoas, propiciando as inevitáveis aglomerações.
O grau de insatisfação e revolta das exauridas equipes médicas que atendem a pacientes da Covid-19 é imensurável; é de fundamental importância, separar os sintomáticos respiratórios dos demais pacientes. Se faz necessário portas de entrada e centros isolados, com todos os pré-requisitos necessários ao atendimento dos pacientes vítimas da pandemia.
É nosso entendimento que no enfrentamento do Novo Coronavírus, não bastam apenas “abertura de novos leitos de UTI e Enfermarias”, se faz necessária uma abordagem baseada em um modelo que vise minimizar de forma efetiva a circulação do vírus até a plena imunização populacional.
Diante do exposto o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco – CREMEPE propõe que medidas drásticas de enfrentamento devam ser adotadas de imediato:
1. Ajustamento do plano de convivência com o Novo Coronavírus, para uma fase mais compatível com a expectativa do aumento de casos que se vislumbra.
2. Proteção efetiva e respeito aos médicos e demais profissionais de saúde que trabalham no combate à pandemia. Haja vista ser clara a insatisfação e indignação das equipes que atendem a pacientes da Covid-19, pela falta absoluta de condições de trabalho – contratos precários, sem o devido amparo legal, falta de materiais de proteção individual e insumos – fato corriqueiro em unidades das esferas municipais.
Finalizando, respaldado no compromisso que tem esta Autarquia Federal de zelar pela saúde da população, conclamamos a um diálogo e debate aberto; governo estadual e sociedade civil organizada; unidos no enfrentamento conjunto e responsável da pandemia.
Recife, 22 de dezembro de 2020
Confira a nota, em resposta, do Governo de Pernambuco: