“Bolsonaro é a minha maior decepção”, critica a metralhadora Frota…

Época/ Guilherme Amado

Seis meses depois de assumir um gabinete na Câmara, Alexandre Frota está desiludido. O deputado do PSL, partido de Jair Bolsonaro, afirmou que sente “nojo” do bolsonarismo “xiita”, disse não ver qualquer articulação política do governo e defende João Doria no Palácio do Planalto em 2023: “Doria-ACM vai ser uma grande chapa presidencial”.

Em entrevista à coluna, Frota contou como foram seus dias como “bombeiro” entre os temperamentais Rodrigo Maia e Paulo Guedes, durante a reforma da Previdência, e interrompeu a conversa para mostrar um áudio enviado naquele momento por Guedes revelando que uma sugestão de Frota mudou a propaganda da reforma.

Leia a entrevista:

Há três meses, o senhor dizia que precisava de provas do rombo da Previdência antes de apoiar a reforma. Na semana passada o senhor estava distribuindo bandeirinhas no plenário a favor da proposta. O que mudou?

O que mudou é que, depois de tantas conversas com o Paulo Guedes e palestras com a equipe econômica, passei a apoiar a Previdência. Sobre as bandeirinhas, foi uma estratégia de marketing, já que a esquerda tinha camisas e faixas vermelhas. Pedi para um assessor comprar as bandeiras na 25 de Março. A esquerda ficou boquiaberta. Foi um show.

O centrão é mocinho ou vilão?

Eu não uso “centrão”. Eu os chamo de moderados. Não são nem mocinhos nem vilões. São equilibrados e buscam um entendimento que faça com que as pautas andem em prol da sociedade.

O presidente da comissão especial da reforma da Previdência, Marcelo Ramos, disse que, se dependesse do governo, a reforma da Previdência teria andado muito pouco. O senhor concorda?

Ele tem total razão. A Câmara fez o que o governo deveria ter feito. Não existe uma base montada pelo governo. Essa base foi montada pelos moderados, por nós que trabalhamos incansavelmente. O governo maltratou a Câmara.

Como é a articulação política do governo Bolsonaro?

A articulação com a Câmara não existe. Merecíamos um tratamento diferenciado. O governo se empenha muito pouco.

Que pessoas mais te decepcionaram?

Eu aprendi muito cedo na Câmara que você não tem muito tempo para se decepcionar com as pessoas. Mas quem mais me decepcionou, com toda a certeza, foi o Bolsonaro.

Que conselho o senhor daria a Jair Bolsonaro?

Bolsonaro precisa olhar um pouco para trás, para as coisas que ele prometeu. Quero que ele termine o mandato e acerte. Mais do que tudo, o Brasil precisa andar. Não estou mais preocupado com o que o Bolsonaro vai fazer ou não. Só não quero que ele erre.

O senhor atribui a aprovação da reforma a Rodrigo Maia?

Não posso ser leviano e esquecer do Paulo Guedes. Mas com certeza o Rodrigo Maia construiu tudo isso com muita sabedoria e calma, passando por cima de muitas críticas.

Como o senhor construiu uma relação com Paulo Guedes?

A gente se falava todo dia cedo. Me senti um privilegiado de ter trabalhado tão perto dele, um profissional incrível. Ele disponibilizou um técnico para ficar comigo e viu que eu estava ali para ajudar. Estudei, fui firmeza.

O senhor mediou negociações entre Maia e Guedes.

Foram momentos difíceis, por causa do temperamento das pessoas envolvidas. Muitas vezes reconstruímos o muro desmoronado. Me orgulho de ser amigo do Guedes e do Maia, ainda que eu tenha apagado muitos incêndios. Foi estilo bombeiro. (Neste momento, Frota mostra um áudio de Paulo Guedes, gravado para ser mostrado na entrevista à coluna: “O Alexandre Frota tem sido muito construtivo no apoio às reformas. Por sugestão dele, nós mudamos toda a comunicação do regime de capitalização para ‘poupança garantida’. Ele tem ajudado muito”.)

A reforma da Previdência aprovada pela Câmara foi “meia boca”, como atacaram muitos bolsonaristas?

Não concordo. A reforma atingiu números excelentes, como disse o Guedes. Bolsonaro afirmou que errou na reforma dos policiais e pediu que o Congresso consertasse, jogou em nossas costas. Os bolsonaristas radicais precisam ganhar uma eleição antes de criticar.