Bastidores da saída de Marília Arraes do PT

Da VEJA – Em Brasília na terça-feira (22) depois de se reunir com o ex-presidente Lula em São Paulo, na véspera, a deputada federal Marília Arraes se reuniu com a bancada do PT na Câmara para confirmar que está de saída do partido. Na conversa, ela comunicou o que já havia dito ao cacique petista no dia anterior: está de malas prontas para o Solidariedade para disputar o Governo de Pernambuco.
Na conversa com os colegas, ela fez questão de dar nome e sobrenome para a razão que a levou a deixar o partido: o do senador Humberto Costa, principal liderança do PT no estado. Marília disse ser odiada pelo correligionário, que teria trabalhado para impedir que ela fosse a candidata do partido ao Senado, dentro da aliança com o PSB. Ela frisou, no entanto, que faz oposição ao partido que governa Pernambuco há quase 16 anos, e que uma possível reacomodação demandaria muito trabalho dentro das siglas.
No encontro com Lula, que como mostrou o Radar nesta terça foi desencorajado por aliados a recebê-la, o ex-presidente disse já saber que a decisão de Marília estava tomada. Ela então fez questão de oferecer outro palanque ao ex-presidente, que já declarou apoio ao pré-candidato do PSB, o deputado federal Danilo Cabral. Mas saiu sem nenhuma sinalização de que poderá contar com o petista na campanha.
Marília Arraes pretende disputar Governo de PE
Na semana passada, Marília encomendou uma pesquisa em Pernambuco que apontou um ganho na sua imagem com saída do PT, para 30% dos entrevistados. Para outros 46%, a mudança não vai mudar a percepção da deputada. E para 16%, vai piorar.
No mesmo levantamento, ela aparece na liderança, com 26% das intenções de voto, na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas. Danilo Cabral tem apenas 6%.
Os últimos dias foram intensos dentro do partido, desde que a notícia de que Marília sairia do partido veio à tona. No domingo, em uma tentativa de última hora de mantê-la na legenda, o diretório do PT em Pernambuco indicou o nome de Marília para disputar o Senado. Em resposta, ela divulgou uma nota duríssima criticando o movimento da legenda.
“A posição do PT de Pernambuco, indicando o meu nome para concorrer ao Senado pela Frente Popular revela, no mínimo, descuido com o tratamento de assunto tão sério e uma precipitação sem limites. Não fui consultada e não autorizei que envolvessem o meu nome em qualquer negociação, menos ainda que tornassem público, como se fossem os senhores do meu destino, sobretudo após meses de desgaste político e público feito por meio da imprensa, escondido sob manto do off e notícias de bastidores”, declarou a deputada.
Na nota, ela lembrou ainda que, em 2018, um acordo entre as cúpulas do PT e do PSB impediu sua candidatura ao Governo de Pernambuco, quando ela liderava todas as pesquisas de opinião. E disse que, em 2020, quando disputou e ficou em segundo lugar nas eleições para a Prefeitura do Recife, “a cúpula do PT fez de tudo para inviabilizar politicamente a minha campanha, o que ajudou a dar a vitória ao adversário” — João Campos (PSB), seu primo de segundo grau.