‘Aécio não era nossa candidatura ideal. Nunca foi’, diz governador eleito de PE …

Camara (1)

Entrevista POR JÚNIA GAMA E SIMONE IGLESIAS

A presença de Renata Campos e dos seus filhos foi determinante para torná-lo conhecido e elegê-lo?

Havia uma confusão de quem era o candidato de Eduardo. Muita gente acreditava que era o meu adversário (senador Armando Monteiro). O acidente (em que morreu Campos) acelerou muito esse processo. A curiosidade veio antes do tempo, as pessoas queriam saber quem Eduardo tinha escolhido. E o fato de a família estar comigo nos atos, os filhos principalmente, é óbvio que ajudou.

Um dos primeiros atos de Aécio Neves no segundo turno foi ir a Recife se encontrar com Renata. Que papel ela terá na campanha dele?

Estamos fazendo a campanha dele com uma limitação de tempo muito grande. Aécio teve uma votação muito pequena em Pernambuco no primeiro turno, mas já colocamos à disposição dele nossa coordenação de campanha, e a militância está animada para apoiá-lo. Ele vai crescer e vai ganhar em Pernambuco com o apoio dessa militância. Não vamos fazer grandes eventos, não dá nem tempo. Vamos para as ruas das grandes cidades fazer alguns eventos, e a presença de Renata vai ficar restrita ao que já foi, o encontro de sábado. Não sei se ela vai gravar. Ela não participou de nenhum ato de rua meu pelas condições da família, do bebê.

Eduardo Campos era próximo de Lula, e o mesmo ocorria entre Lula e Miguel Arraes. Como avalia o rompimento e o apoio do PSB ao PSDB?

O rompimento já existia. Tanto que desde setembro do ano passado, o PSB decidiu sair do governo Dilma e apresentar a candidatura de Eduardo. Aécio é consequência do que a gente viu durante a campanha, do balanço do governo Dilma, de, como Eduardo gostava de dizer, uma presidente que vai entregar o país pior do que encontrou. Vemos em Aécio a possibilidade de melhorar o país. Não é nossa candidatura ideal, nunca foi. A candidatura ideal era a de Eduardo com Marina (Silva), depois a de Marina com Beto (Albuquerque). Mas foi uma decisão pensada, e, em Pernambuco, foi quase unânime a aceitação e o caminho a se trilhar com Aécio.

O senhor sofreu ameaças de que, se eleito, cessariam os recursos federais para Pernambuco. Que relação pretende ter com Dilma, se ela for reeleita?

Primeiro, acredito na eleição de Aécio. Pernambuco sempre teve protagonismo na gestão e na captação de recursos por conta dos projetos que apresentou ao governo federal e pela capacidade de executá-los bem e prestar contas com transparência. Pernambuco se destacou por sua forma de fazer gestão, e isso vai continuar no meu governo. Espero que o próximo presidente tenha uma visão republicana e continue ajudando Pernambuco como o presidente Lula ajudou.

O ministro Gilberto Carvalho afirmou que Pernambuco não seria o que é, se Lula não tivesse ajudado Eduardo com os repasses que fez.

Todos os pernambucanos são muito gratos à ajuda que o presidente Lula deu, mas sabemos também do nosso papel, porque outros estados foram muito ajudados também, mas não tiveram a mesma competência que nós. Fazer gestão foi o grande diferencial desse processo. Tivemos, ao longo de oito anos, 23% dos recursos vindos do governo federal. Agradecemos os 23%, mas muita coisa foi feita com nosso esforço.

O senhor assume com alguma preocupação sobre a Refinaria Abreu e Lima, investigada por superfaturamento e tema da delação premiada de Paulo Roberto Costa?

Não. A única preocupação que temos é com a desmobilização das pessoas que trabalham na refinaria, e que ela funcione.

Quem poderá ser o sucessor de Campos em termos de liderança política?

A gente tem o governador, o prefeito de Recife (Geraldo Júlio), o senador Fernando Bezerra e um conjunto de deputados. Eduardo tinha uma liderança natural, que já vinha de muito tempo, e esse vácuo, com muito trabalho, a gente vai tentar preencher. Temos um conjunto de quadros que vão ajudar o PSB de Pernambuco a voltar a ter uma voz nacional, como era Eduardo. É difícil. Eduardo é um líder que o Brasil vai demorar para ter nessa mesma qualidade.

Como está a relação com o PT em Pernambuco? Eles podem participar do seu governo?

Tivemos uma relação boa com o PT até 2012, quando Geraldo Júlio saiu candidato a prefeito. Fui colega de secretariado de Humberto Costa, que é a maior liderança do PT no nosso estado, então sempre conversamos. Eles estão na oposição agora, mas eu estou sempre aberto ao diálogo. Pernambuco decidiu que eles são oposição, e, nesse primeiro momento da montagem do governo, a gente vai trabalhar com quem esteve com a gente nesse período.

Como vê as acusações que Roberto Amaral fez contra os demais integrantes do partido, de negociar cargos em troca do apoio a Aécio?

Houve, por parte do ex-presidente Amaral, uma total falta de comprometimento com a maioria do partido, que entendia que o caminho era o apoio a Aécio, e um conjunto de declarações infelizes que não correspondem à verdade. Não houve por parte de Pernambuco nenhuma pressão, não há nenhuma negociação de cargos. É uma falta de respeito à família Campos pelo caminho que ela trilhou nesse segundo turno. Ao dizer que o partido traiu Eduardo Campos, na verdade, é um desrespeito à família Campos, que já declarou claramente qual é sua posição, de maneira muito transparente e pensada.

Amaral acusa o PSB pernambucano de quebrar o acordo para adiar a eleição da nova Executiva para depois do primeiro turno, em troca de mantê-lo na presidência.

Quem quebrou o acordo foi Amaral, ao não acatar a vontade da maioria do partido de apoiar Aécio. Isso inviabilizou a sua permanência no comando do PSB.

O senhor acha que Amaral fica sem condições de permanecer no partido?

De jeito nenhum. O Amaral é um quadro que tem todo nosso respeito. Ele vai continuar a contribuir com o partido da forma que ele entender que deve contribuir.

Como fica a relação entre Carlos Siqueira e Marina Silva, que tiveram desavenças após a morte de Eduardo?

Eles conversaram, e Siqueira colocou que aquelas discussões tinham sido superadas, e que ele, como presidente do partido, estava à disposição para discutir. Ela também se mostrou muito receptiva.

Como seria a participação do PSB em eventual governo Aécio?

Cabe primeiro ele ganhar, e depois cabe ao partido ver a melhor forma de ajudá-lo a governar o país. De minha parte, vou cuidar de Pernambuco.

As pessoas comentam que o senhor lembra fisicamente Eduardo Campos…

Na campanha falavam isso. Mas eu não acho não, viu? É óbvio que, em plena campanha, o pessoal dizer “você é muito parecido com ele”, a gente entende como uma demonstração de apoio. O gestual pode ser. Eu convivo com Eduardo há 20 anos. (O Globo)