A difícil equação de Eduardo Campos. Ou: existe um lulismo não petista?

EDUARDO-CAMPOS

Eduardo Campos (PSB)  participou da sabatina promovida  terça (15) pela Jovem Pan, Folha de S.Paulo e SBT. Dia 16, foi a vez do tucano Aécio Neves.

Às vezes, acho que não deixa de ser uma sorte o presidenciável do PSB ter tão pouco tempo na TV. Terá menos trabalho para achar o que dizer. Até agora, não entendi qual é a tese de Campos nem o que ele pretende. A primeira dificuldade, ficou muito claro, é ele se desvincular de Lula. O candidato do PSB insiste numa equação que me parece quase impossível, cuja síntese poderia ser esta: o lulismo era bom; aí veio a presidente Dilma e estragou tudo.

Mas é mesmo assim? Digam-me cá uma coisa: que política está em curso hoje em dia que não tenha sido iniciada, muito especialmente, no segundo mandato de Lula? Se, antes, foi bem-sucedida e agora dá com os burros n’água, isso decorre do fato de o mundo ter mudado — e mudou contra os interesses do Brasil.

Pergunto ao governador: ele gostou das reformas feitas pelo governo Lula? De quais? Ele gostou das privatizações promovidas pelo governo Lula? De quais? Ele gostou das ações do governo Lula para preservar empregos na indústria? De quais? Tudo é o mesmo, incluindo o ministro da Fazenda. Para que Lula fosse uma maravilha, e Dilma, seu avesso, Campos teria de demonstrar que Guido Mantega, agora, atua contra suas próprias convicções por pressão da presidente. E isso não é verdade.

Querem um caso rumoroso? Os descalabros em curso na Petrobras, por exemplo, são uma das heranças malditas do lulismo. Nesse particular, convenham, até que Dilma está procurando, por intermédio de Graça Foster fazer o que pode. Na sabatina, Campos saiu-se com uma conversa estranha, segundo a qual ele não vai confrontar Lula porque isso só ajudaria Aécio… Ok. Mas confrontar só Dilma, vamos ser claros, não está ajudando muito nem ao próprio Campos.

Depois que Marina Silva migrou, temporariamente, para o PSB, veio então a história da “nova política”, que ele encarnaria, em companhia da líder da Rede. E, como exemplo da velha, citou o PMDB, que teria o controle de fatias do governo Dilma, mas mantém um pé, diz ele, na canoa de Aécio Neves. Não sei se lhe foi perguntado, mas pergunto: caso vença, dispensa o apoio do partido? Se o tiver, não será apenas por seus olhos. Mesmo aqui a equação se complica: Campos apoiou o petismo por dez anos. Teve cargos no governo Dilma por mais de dois anos. A que exatamente ele se opõe? Certo: o país está encalacrado com crescimento ridículo — na casa de 1% —, tem juros estratosféricos e inflação alta. Hoje, exibe alguns dos piores indicadores da América Latina. Mas isso se deve a escolhas de Dilma? Parece-me o desdobramento de escolhas que foram feitas no governo Lula. Acontece que a farra acabou.

E encerro com uma questão que parece besta, mas que dá conta de certo estado de coisas. Campos defendeu o “passe livre” para estudantes. É tentação demagógica. O que haveria de “social” nisso? Conceder gratuidade a uma categoria, independentemente de suas condições de renda, é uma forma de fazer justiça? Quem paga a conta? Se dá para fazer no Brasil inteiro, por que não se fez em Pernambuco? O ex-governador também se saiu mal quando tentou explicar — e não explicou — a frenética campanha que fez para que sua mãe, Ana Arraes, integrasse o TCU. E ele estava no comando de um governo de Pernambuco. Isso não tem nada de novo. É, na verdade, uma prática muito velha.

Por Reinaldo Azevedo

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