Perdemos Manuel Mendes, “O menino de Bom Jardim para o mundo”..

Veja fotos e conheça um pouco mais da história desse grande jornalista, escritor e um dos  pioneiros na construção de Brasília, a capital do Brasil.

Colégio Santana de minha infância, a primeira escola regular que frequentei, guardo as mais doces recordações. As madres alemãs eram habilidosas no trato com as crianças, sem esquecer a rigidez disciplinar própria dos alemães.

Outra preocupação, que ia além do simples ABC, era incutir nos alunos o gosto pela música, pelo teatro, pela cultura enfim. Como me lembro das brincadeiras que a madre Duária (Ilduaria) fazia! Ou da música, canções, piano, teatrinho sob o comando da autoritária madre Maurícia! Minha irmã, Maria, e eu, apesar dela está com 90 e eu com 91 anos, ainda temos vivas em nossas memórias as canções e algumas dessas peças infantis de que participamos, como O Sapateiro. Fui um dos sete sapateiros que formavam o elenco dessa peça e minha irmã, com mais seis outras coleguinhas, as freguesas que levavam os sapatos para consertar. Quando a cortina abria, mostrava o palco com sete banquetas de sapateiro e sete tamboretes, com alguns sapatos em volta. Os sete sapateiros entravam em fila, comigo à frente, por ser o menor do grupo. Vestíamos um avental de trabalho e levávamos um martelo numa mão e um pedaço de sola na outra. Íamos batendo na sola e cantando, com madre Maurícia ao piano:
Bum, Bum, Bum,
É tão bom ser sapateiro
Pois, enquanto o dia inteiro
Pula e brinca sem cessar,
Depois vai trabalhar. (Bis)
Cada menino ocupava sua banqueta. Entram então as meninas, dançando e cantando:
Vamos passear
E depois dançar,
Até a sola se estragar…
Vamos passear
e depois dançar
Até a sola se estragar.
Cada uma postava-se em frente de um sapateiro:
Bom dia, meu senhor,
Lhe rogo por favor,
Este meu sapatinho
Conserte-o direitinho.
Os meninos se levantam e fazem uma reverência:
Às ordens, senhorita,
Aqui estou,
Seu pé me deixe ver. (As meninas levantam o pé)
Mas, quanto este sapato
Se estragou,
Um novo vou fazer.
As meninas dão uma tira de papel e cantam:
Pois, tome a medida,
Assim serei servida.
Conserte-o bem melhor.
Obrigada, meu senhor.
E saem cantando a mesma canção da entrada. Pouco depois saem os meninos, cantando e batendo, tal como entraram. Havia uma outra peça, só para meninas maiores, A Lavadeira, com pedras e bacias d’água no palco. O grupo entrava com uma trouxa de roupa na cabeça. Colocava-a no chão, tirava de lá uma peça, mergulhava na bacia e depois batia com ela na pedra, sempre cantando:
Bate, bate lavadeira,
Bate e lava sem parar
E depois desta canseira
Como é bom o descansar!

A memória infantil é algo fabuloso mesmo. Tudo parece ter sido ontem, quando o foi lá por volta de 1935/6. Os versos estão um pouco forçados porque eles são tradução do original alemão. Também os estou repetindo com base na memória de minha irmã, pois nada temos escrito. É provável que haja falha, mas, no geral, dá uma ideia do nosso teatrinho de que Marly Mota, que dele participava, fala em seus livros. Para aumentar o espaço do teatrinho — na época, o colégio ocupava apenas um prédio, o original — as paredes que separavam as salas de aula eram de madeira e de correr, um recurso engenhoso que permitia assim um vão maior para as cadeiras e o palco improvisado nos dias de festa. (Manuel Mendes) 
https://www.youtube.com/watch?v=RD8benhimuk

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