O vexame da votação do impeachment na câmara…

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Por Robson Sávio Reis Souza

O vexame da votação da admissibilidade do impeachment no último domingo expôs para o mundo inteiro as verdadeiras razões que estão por detrás desse vergonhoso processo inquisitorial à brasileira. Uma vitória de Ali Babá e seu bando. Em nome de “deus e da família”, remetendo-nos a uma triste memória, um show deprimente foi transmitido ao vivo, para o deleite daqueles que transferem suas culpas e pecados como cidadãos, projetando-as em bodes expiatórios. Nunca pensei que um big brother global fosse superado de forma tão grotesca.

Ficou claro que há uma evidente dissociação entre a justiça e o direito, dado que no pedido que originou o processo de impedimento não há crime de responsabilidade, somente a sanha vingativa de um perverso, seguido como manada hipnotizada por um bando de inconsequentes. Assim, assistimos à instalação gradual de um estado ilegítimo (porque a presidente está sendo arrancada à força do poder) e, também, ilegal (porque esse fajuto possível impedimento não tem fulcro e amparo na Constituição).

Continua…

Se no Brasil a imprensa golpista não destacou o vexame, vejam, abaixo, o que fizeram alguns veículos da mídia internacional publicaram:

O The New York Times, o jornal mais influente dos EEUU, comentou: “Um terço dos deputados da Câmara foram acusados ou estão sendo investigados por corrupção, incluindo seu presidente, Eduardo Cunha, o homem que orquestrou o impeachment de Dilma. Cunha, que enfrenta acusações de que ele aceitou US$ 40 milhões em subornos, especialmente não gostava dela. E quase 90 por cento dos brasileiros querem que ele seja afastado da presidência da Câmara”.

O jornal inglês The Guardian registrou o circo de horrores que foi a votação e o tipo de deputados que temos: “Deputados foram chamados um por um para o microfone pelo conspirador do processo de impeachment, Cunha: um conservador evangélico que é acusado de perjúrio e corrupção. E, um por um, eles condenaram a presidente. Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração votou sim. Também votou sim Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. “Pelo amor de Deus, sim!”, declarou Silas Câmara, que está sob investigação por falsificação de documentos e apropriação indevida de fundos públicos.”

O jornal irlandês The Irish Times classificou os deputados federais brasileiros de palhaços e disse que se comportaram como bêbados em jogo de futebol: “Quando um dos mais amados palhaços do Brasil, Tiririca,  foi eleito para o Congresso em 2010 houve muito ranger de dentes entre os comentaristas sobre sua vitória  e o que isso significava sobre a direção da política do país. Mas no domingo, quando a Câmara votou sobre a possibilidade de cassar a presidente Dilma Rousseff sobre as acusações de que ela violou leis orçamentárias, ficou claro que Tiririca não só se encaixa bem, mas está longe de ser o maior palhaço no bloco político. Na mais importante sessão da Câmara em quase um quarto de século muitos de seus membros comportaram-se como palhaços ou fãs de futebol bêbados num jogo local”.

O mais respeitado comentarista político de Portugal,  Miguel Sousa Tavares,  afirmou naSIC, uma das principais emissoras de TV daquele país, que nunca viu o Brasil descer tão baixo e, que o que se viu no Congresso ultrapassa tudo: “Nunca se viu o Brasil descer tão baixo. O que se viu foi uma assembleia geral de bandidos comandada por um bandido – Eduardo Cunha – fazendo a desconstituição de uma presidenta sem qualquer base jurídica e constitucional, mas sobretudo com uma falta de dignidade de arrepiar”. O comentarista acredita que nada do que se passou vai resolver a situação brasileira, nem mesmo a questão econômica. Afirmou, ainda, que a situação brasileira está madura para um golpe militar.

O site alemão Die Zeit afirmou que a votação na Câmara “mais parecia um carnaval” e que uma pessoa desavisada que visse a sessão não poderia ter ideia da gravidade da situação. “Nesse dia decisivo para o destino político da sétima maior economia do mundo, o que se viu foram horas de deputados aos berros, que se abraçavam, tiravamselfies e entoavam canções”: “Nos discursos dos representantes do povo havia tudo o que se possa imaginar: lembranças aos netos, xingamentos contra a educação sexual nas escolas, paz em Jerusalém, elogio a um torturador do antigo governo militar, o jubileu de uma cidade e assim por diante”.

O El País, principal meio de comunicação da Espanha, registrou: “Deus, onipresente numa votação que nada tinha ver com ensinamentos bíblicos, foi apelado até para tomar o comando e as famílias dos parlamentares pareceram ter sido mais motivadoras para derrubar a presidenta do que qualquer negociação. Não estranha em um Congresso cheio de fundamentalistas religiosos e que possui o maior percentual de deputados com familiares políticos desde as eleições de 2002. O nepotismo na Câmara revela-se ao ver 49% dos deputados federais com filhos pais, avôs, mães, esposas ou irmãos atuando em política, segundo um estudo da Universidade de Brasília. É o maior índice das quatro últimas eleições. Após quase cinco horas de votação, Deus e os netos dos deputados derrubaram a presidenta do Brasil”.

Além de discursos horripilantes e abjetos e sua péssima repercussão internacional, cenas como a declaração de voto de Bolsonaro, o maior representante de um segmento nefasto da política nacional (digno de compaixão – porque devemos enxergar dignidade na vida que pulsa naquela carcaça), tivemos o mais fiel retrato de uma casa legislativa que não nos representa. Somente cerca de 40 dos 513 deputados federais tiveram votos suficientes para se eleger. Significa que mais de 90% (noventa por cento) deles devem o mandato a restos de votos (da coligação ou do partido), por causa do chamado coeficiente eleitoral.

Passado o deprimente espetáculo grotesco, agora resta ao cidadão o direito que tem de se contrapor à coalizão parlamentar-midiático-jurídico-elitista-empresarial que quer se impor à força; de lutar de todas as formas contra os usurpadores do poder que se impõem através de um estado de terror, censura ou violências contra as garantias sociais. A princípio, é legítima a ação contra um governo ilegal e ilegítimo.

A verdadeira mudança só virá com a força das massas! Enquanto o novo não nasceu, lutemos contra as velhas oligarquias e a plutocracia nacionais.