Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo
Eu visitei Paulo Maluf na prisão.
Ele estava tão ansioso para o encontro, na sexta-feira, 2, que já me esperava na porta do bloco em que fica sua cela no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
“Minha querida”, disparou no velho estilo, abrindo os braços para um abraço. “Vim fazer a recepção a você.”
Maluf, 86, parece ainda mais velho. Está de cabelos mais brancos do que o usual (ele não pode mais pintar), barba por fazer e com a pele do rosto cheia de manchas.
É o dia da visita semanal de familiares e amigos aos detentos da Papuda.
Todos os que entram têm que se vestir de branco da cabeça aos pés e usar sandálias no estilo Havaianas, o mesmo uniforme dos presos.
A primeira impressão que se tem é a de estar numa cerimônia religiosa de umbanda ou candomblé.
Maluf também está vestido de branco. Como tem muita dificuldade de caminhar, foi autorizado a usar sapatos.
Curvado e apoiando o braço esquerdo em uma muleta, ele anda vagarosamente pelo corredor que nos levará à cela 10, um espaço de cerca de 10 m² que divide com três detentos.
Apoia o lado direito do corpo na parede para não cair. O dedo mínimo de sua mão está sangrando, deixando marcas por onde encosta.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, num pátio ao lado separado do corredor por uma grade, vê Maluf.
Acena uma vez. Acena de novo, algo surpreso ao reconhecer a colunista da Folha.
Continua…