Desconfio que a inveja tenha origem no medo humano do fracasso, da solidão e do esquecimento. Inveja? Ninguém tem. Quando olhamos para os sete pecados capitais, podemos admitir os outros seis. “Admitir”? Melhor escrever: assumir com cara alegre.

“Orgulho”? Todos temos –e com muito orgulho. “Ganância”? Uma outra forma de dizer ambição. “Luxúria”? Ah, nas sociedades hiper-sexualizadas em que vivemos, o verdadeiro pecado é não ter. “Gula”? Todos gostamos de um “bon vivant”, sobretudo na era brega dos “chefs”. “Fúria”? Um homem de verdade não é um banana. E, sobre a “preguiça”, há indústrias inteiras –do turismo à publicidade– a vender o produto com vocação evangélica.

Inveja é outra história. Uma confissão de inferioridade, uma revelação torpe de caráter. O meu vizinho tem o trabalho, a casa, a mulher e os filhos que poderiam ser meus; que deveriam ser meus; que têm de ser meus.

INFELICIDADE PRÓPRIA – E nós, observando a alegria alheia, naufragando na infelicidade própria, tentando reprimir esse sentimento viscoso que cresce como um magma infernal. O leitor sabe do que falo. Ou não sabe?

Joseph Epstein ajuda a entender o assunto. Durante uma viagem de trem, li finalmente o seu delicioso ensaio sobre a inveja (“Envy”, Oxford, 133 págs., em inglês). Aprendi muito. Concordei idem.

A inveja faz parte da natureza humana; mas é a ovelha negra da alma. Pobrezinha. Se no início era o Verbo, a inveja veio a seguir: Caim matou Abel por invejar certas preferências do Altíssimo. É um caminho. Outro, proposto por Aristóteles, é cultivar a “boa inveja” e não matar ninguém. Pelo contrário: é imitar o ser invejado, aprender com ele –e, para usar uma palavra cara ao filósofo, “florescer”.

Continua…