Drauzio Varella defende combate à obesidade e ao sedentarismo durante palestra no Recife…

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Não há espaço para desculpas, o corpo é o principal bem de qualquer pessoa e é preciso cuidar dele para manter a qualidade de vida. O alerta é do oncologista Drauzio Varella, que esteve no Recife na tarde de ontem (27), para realizar palestra em comemoração ao cinco anos do Real Instituto de Oncologia, do Real Hospital Português. O especialista falou cerca de uma hora sobre o tema “câncer, prevenção e qualidade de vida” e deixou claro que a obesidade e o sedentarismo são dois pilares para as crescentes estatísticas de mortes por Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil.

As DCNT, ou seja, as cardiovasculares, respiratórias crônicas, diabetes e câncer, são responsáveis por sete em cada 10 mortes no país. O ser humano, que ao longo dos milênios foi acostumado a lutar contra a fome, hoje vive diante de outra realidade, da crescente obesidade. No Recife, por exemplo, a quantidade de obesos cresceu de 11,9% para 20% na última década. Em todo o Brasil, uma em cada cinco pessoas é considerada obesa. Segundo Drauzio Varella, 52% dos brasileiros estão com excesso de peso, abrindo caminho para as comorbidades associadas.

“Existem hoje dois problemas na sociedade. A vida sedentária e a fartura de alimentos. As cidades modernas não facilitam a busca por exercício físico. A refeição precisa ser o que os nosso avós chamava de comida. Dava certo”, afirmou o oncologista. Estudos já comprovaram a correlação da obesidade e do sedentarismo com mais de 30 tipos de câncer. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de ocorrência de 600 mil novos casos da doença entre 2016 e 2017 no país. “Está comprovado que pacientes obesos e sobrepeso têm maior incidência de câncer de mama, cólon, próstata e pulmão”, detalhou o membro do Real Instituto de Oncologia, o oncologista José Fernando do Prado Moura.

Continua…

No Brasil, 50% da população chega aos 60 anos hipertensa e 60% com pressão alta. Durante o encontro, Drauzio Varella ressaltou que é preciso proatividade para mudar esse quadro. “Não adianta inventar desculpas. Se você ficar esperando a disposição, ela não vai chegar. É preciso fazer uma programação. Estabelecer como prioridade. Andar 40 minutos por dia não é nada. Não é possível que tenhamos uma estrutura de vida que não permita fazer isso”, acrescentou.

Ele defendeu ainda, aportado por estatísticas, que o cuidado deve ser igual do homem e da mulher. Segundo ele, os homens têm uma expectativa de vida sete anos menor que a população feminina, mesmo assim não buscam tanto os exames quanto elas. “Uma em cada 10 mulheres terá câncer de mama e um em cada seis homens terá câncer de próstata. O homem precisa entender que ele é o sexo frágil fisicamente.”

Ao fazer comparativos entre a saúde do homem e da mulher, Drauzio foi enfático a respeito da gravidez. “O pai só é pai depois que a criança nasce. A gravidez é exclusivamente feminina, então são elas que têm que decidir. O homem não tem que dar palpite. Ele é alheio, não adinta querer pegar carona na gravidez”, disse. O oncologista já se posicionou favorável ao direito de a mulher decidir sobre o aborto em outras ocasiões.

Outros temas

Ao se debruçar sobre a prevenção às doenças, Drauzio Varella elogiou o Sistema Único de Saúde (SUS). “Nós temos ilhas de excelência no SUS, que nos permitem ter orgulho. Apesar dos problemas de má gestão e de desvios”, opinou, citando entre outras questões o programa brasileiro no controle do HIV/Aids.

Estrela de uma campanha publicitária do Governo de Pernambuco sobre o combate aos focos do aedes aegypti, em 2015, ele também fez uma análise da atual situação do controle das arboviroses. “A dengue diminuiu no país inteiro. A chikungunya e o zika também. Quero crer que é resultado da conscientização.” Por outro lado, apontou os desafios no cuidado com a síndrome congênita do zika. “A dificuldade agora é você dar assistência a essas crianças, pois elas demandam assistência para sempre. Demorada, especializada. E é uma área que o SUS tem muita dificuldade”, finalizou. (Diário de Pernambuco)