Houve um tempo que me incomodava ouvir falar de morte ou de vida após a morte, mas, à medida que os anos atingem os costados de nossa existência o homem fica mais reflexivo com relação ao seu futuro, e queda-se perguntando: Por quantos anos ainda respirarei o ar fresco da vida? Para onde irei? O que me acontecerá após a ultrapassagem da tênue barreira que divide a vida da morte?

Sim, são perguntas pertinentes, porque a morte é a única certeza plena no transcorrer de nossa trajetória humana. E a vida?… Ah! A vida não passa de uma nuvem passageira perante a escala de tempo de Albert Einstein (1879-1955).

Por falar em Einstein, qual a visão deixada pelos grandes pensadores acerca da vida?… E sobre a morte? No entendimento de Sócrates (469a.C.- 399a.C.), que já defendia, naquela época, a imortalidade da alma, o ser humano é um espírito encarnado que vive algum tempo na matéria. Acerca do tema assim ditou ele:

No mundo físico a alma se conturba e fica perdida porque está vinculada a objetos perecíveis. Mas, ao voltar-se para si mesma, vislumbra as ideias imortais que outrora conhecera. Este é o momento definido como sabedoria. Daí a necessidade do “conhece-te a ti mesmo”. Ainda segundo Sócrates, somente os que cultivarem a virtude nada temerão da vida que continuará depois da morte.

Sócrates definiu filosofia como “preparação para a morte”. Schopenhauer (1788 – 1860), na mesma linha de pensamento do filósofo grego, afirmou que a “a morte é a musa da filosofia”. Então, será a filosofia a ciência da morte?

Também houve um tempo que eu sonhava com uma vida de riqueza, poder e feitos épicos, mas a própria vida me mostrou a utopia de tudo isso, e me fez derivar para uma interpretação mais simples e objetiva para a nossa existência.

Tanto é assim que a minha filosofia se assemelha a de Ariano Suassuna ao discorrer sobre Deus e o sentido da vida: Deus para mim é uma necessidade. Se eu não acreditasse em Deus eu seria um desesperado.

Hoje eu assimilo melhor as palavras do compositor Gonzaguinha ao aconselhar, na canção, que viver e não ter a vergonha de ser feliz. Ou quando afiança que a vida é uma doce ilusão ou, ainda, que é uma gota, é um tempo que nem dá um segundo, mas que nada impede de repetirmos que ela é bonita, é bonita e é bonita!

Voltaire (1694-1778), o filósofo francês, disse: Nós nascemos sozinhos. Nós vivemos sozinhos. Nós morremos sozinhos. E qualquer coisa neste intervalo que possa nos dar a ilusão de que não estamos sós, nós nos agarramos a ela. Ao trocarmos em miúdos esse pensamento, advém a seguinte reflexão: Nascemos sem trazer nada. Morremos sem levar nada. E nesse meio tempo brigamos por coisas que não trouxemos nem levaremos.

Segura teu filho no colo, sorria e abraça teus pais enquanto estão aqui. Que a vida é trem-bala parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir.

E nem é preciso ser um grande pensador para descrever o sentido da existência, com gritante objetividade, como a compositora Ana Vilela na canção Trem-Bala, lembrando-nos que o interregno do nascimento à morte não passa de um piscar de olhos.

Fonte: JOSÉ NARCELIO – AO PÉ DA LETRA