‘Amizade’ entre produtor e boi de 400 Kg é atração em sítio de São Tiago…

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Na cozinha de um casarão centenário de fazenda na pequena São Tiago (MG) uma cena inusitada se desenrola. De repente, um imenso boi surge na porta da sala para a cozinha revirando a cabeça para passar seus longos chifres pelo “pequeno” vão da passagem. Calmamente ele caminha até a porta da despensa, para e aguarda sua porção de milho ser servida pelo dono. Este é o boi Tomate, um touro manso criado como bicho de estimação pelo produtor rural Sebastião Galdêncio Almeida, de 77 anos. O amor dele pelo bicho é quase de pai pra filho e o dono logo já avisa: o boi ele não vende ou muito menos jamais vai dá-lo. “Esse boi é meu ‘companheirão’, ‘nóis’ mora lá na serra, que lugarzinho bão”, recita em rima seu Tião.

Aonde Tião vai, Tomate vai atrás. Se ele pede para o Tomate sentar, ele senta. Se pede para sair, ele sai. Quando quer comida ou ficar perto do dono, Tomate encosta o focinho no rosto do seu Tião na maior polidez. O carinho é visível entre os dois e não há quem não fique espantado de ver tamanho boi criado dentro de casa que nem um poodle dos mais paparicados. “Achei ele bonito ‘né’, aí deixei ele”, conta seu Tião sobre como resolveu adotar o boi. “Ele era gordinho, redondinho, aí coloquei o nome de Tomate.”

Seu Tião cria o boi em casa desde que ele era ainda um bezerro de um mês. O animal foi castrado para que não ficasse bravo quando adulto. Hoje Tomate já tem 8 anos e segundo Tião, começou a crescer tanto assim nos últimos três. O peso do bichinho de estimação? Tião responde: “25 arrobas”, ou quase 400 kg passeando dentro de casa. Quando Tomate entra na grande cozinha do casarão, seu corpo ocupa quase metade do comprimento do cômodo, mas ele é um boi cuidadoso. Se movimenta bem devagar, sem esbarrar nos móveis ou derrubar nenhuma xícara.

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Para que ele ficasse mais parecido ainda com os típicos cachorrinhos que a gente cuida em casa, Tião resolveu ensinar o Tomate até a “fazer graça”. Quando o dono fala para o Tomate dar bom dia, o imenso boi se ajoelha e cumprimenta os presentes. Para honrar o bom relacionamento entre “pai e filho”, Tião ensinou o boi até a “dizer” que torce pelo time do coração do dono. “Se perguntar pra ele se é do Cruzeiro, ele balança o rabo pra cima falando que sim. Do Atlético ele não é não. Pergunto e ele balança o rabo para os lados ‘falando’ que não (risos)”, brinca seu Tião demonstrando na prática que não contou mentira. Tomate balança o rabo assim mesmo.

Continua…

Se a ordem que vem do dono é “Chega ‘sô’”, Tomate para de tentar atacar toda a comida que vê pela frente. “Ele come demais. Se deixar come o dia inteiro. Chega sô!”, fala Tião quando Tomate se aproxima dele e roça o focinho na cara do dono só pra ‘pedir’ mais laranja da sacola na mesa pra comer. O carinho do boi continua e seu Tião não aguenta: levanta e coloca mais milho na vasilha para Tomate comer. De vez em quando, o boi toma até refrigerante, que bebe direto do copo dado na boca pelo dono.

Tião garante: Tomate nunca levantou uma pata pra dar um coice nele. “Nunca fez nada em mim. Um dia só ele quase pisou na minha mão. Eu chamei ele pra mostrar pro povo como ele gostava de mim. Eu estava sentado no chão e quando ele se aproximou de mim ele foi pisando na minha mão. Aí eu gritei: ‘olha a minha mão, ‘sô’!’ Ele tirou a pata antes de pisar e nem me machucou”, conta.

Voltando à mesa, seu Tião conta da maior aventura que o Tomate já viveu. Quando o dono completou 50 anos de casamento com sua mulher Antônia, a comemoração foi meio inusitada. O casal viajou para São Paulo (SP) e levou o boi junto com seus três anos à época para a metrópole. A aventura tinha razão de ser: os dois participaram do Programa do Faustão, da Rede Globo, mostrando para o país o Tomate criado como bicho de estimação.

A viagem deu certo e rendeu até uma boa rima para contar a história. É que seu Tião além de criar o boi como de estimação, tem mania de inventar poema para ‘relatar’ a vida. Com seus 77 anos de idade, ele nem recorre ao papel para recitar a visita de Tomate ao Faustão e fala tudo de memória. “Eu criei um bezerro como de estimação. Depois que ele virou boi eu pus o nome nele de Tomate. Com a ajuda de São Sebastião eu levei ele lá no Faustão. Lá tinha muita gente, lá ‘tava muito ‘bão’. Aí perguntaram: quer vender esse boi? Esse boi eu não vendo não. Se eu vender, não vou ficar rico, nem pobre também não.”

Com tanto carinho recebido desde o “berço”, tudo indica que Tomate ainda terá uma vida longa e confortável nos currais e cozinha da fazenda do seu Tião, rendendo muitas rimas do dono em homenagem ao seu “bichinho” de estimação. “Essa é a história do seu Tião do Hugo do boi Tomate que foi lá no Faustão. Se vocês ‘quiser’ ver de novo é só ligar a televisão. Aí aparece o boi Tomate e o Tião.” (G1)